31 janeiro, 2008

da liberdade

(Este post se relaciona com os dois anteriores. São três posts que, na minha opinião, têm significado e força ao contrário de muitos outros que andei fazendo. Com esse post termino a minha trilogia do cavalo a pé.)

Existem substantivos que são comumente chamados abstratos. Acho que não precisamos procurar dar uma existência muito mais sólida para eles quando são como felicidade/liberdade, que são as expressões do que é feliz/livre. São somente nomes que damos porque são necessários (ou ao menos úteis, ou, de qualquer forma, criados e usados). São asbtratos no sentido de que não precisam existir de verdade (ao menos esses; não posso afirmar o mesmo de amor, medo e consciência, não pelos mesmos argumentos), e, bem, eles não existem na natureza como naturais.
Isso significa, em conjunto com outras coisas afirmadas nos outros dois posts, que não temos muito porque procurar a felicidade ou a liberdade.
Se isso é significante, julgue por si mesmo. Se acha que não poderemos nunca concluir nada, pense bem, pois não concordo com você. (Abaixo o obscurantismo e o relativismo.)

das caracterizações

Esse consegue ser um assunto delicado: o que são as palavras. Claro, "hai" palavras de tudo que é jeito, mas vou observar mais o[ que ]s[e chama de] nomes. (Encolha os colchetes, se quiser. Note aqui o uso de um símbolo inconfundível, ao menos para mim.)
Tanto substantivos como adjetivos definem conjuntos. Ou são propriedades, o que dá no mesmo. (Há não muito tempo atrás, pensei em novas coisas:) Há diferenças, e fortes, entre adjetivos e substantivos, ao menos sobre como eles definem subconjuntos. Os substantivos são "absolutos", ou seja, faz sentido falar em "um gato" ou "uma cadeira" sem muitos problemas. Já (a minha grande "descoberta") os adjetivos dependem dos substantivos; eles também significam propriedades, mas ao mesmo tempo seus significados se subordinam ao tipo de coisa que estão qualificando. (Usarei exemplos matemáticos pois os sentidos são muito bem definidos.) Assim, ser ortogonal é uma característica de uma matriz ou de um par de retas no plano, embora ortogonal tenha um sentido bem distinto para cada caso. Não faz sentido pedir o que é um número ortogonal, ou uma pessoa ortogonal. A não ser que definamos um sentido previamente; para mim ainda é desconhecido. Também não faz sentido pedir o que é "ser simples", embora eu saiba que um grupo (no sentido matemático) é simples quando não possui subgrupos normais. E normais, aqui, é uma forma de caracterizar os subgrupos. Pedir todas as coisas que são normais é pedir demais; podemos saber, sim, que normal tem algum sentido quando dedicado a um objeto específico. Repare que falo de adjetivos e substantivos; os adjetivos formam subconjuntos dos substantivos, como as matrizes ortogonais que acima de tudo são matrizes; ortogonais separa algumas delas.

A fim de curiosidade:
Duas retas no plano são ortogonais entre si quando se intersectam e essa interseção forma quatro ângulos retos. (Aqui perdi a chance de dizer algo bonitinho.)
Uma matriz é ortogonal quando é quadrada e tem colunas ortonormais. (Heim??)
Um subgrupo H de um grupo G é normal quando existe o grupo quociente G / H. (Como?)
(Note que isso são definições, e não relações de pertinência ou subordinação, como dizer que um número natural é inteiro.)
(Ao contrário de algumas expressões, um grupo quociente é um grupo. E sendo um grupo [substantivo], tem a característica de ser um grupo quociente [adjetivo].)

de ser livre

Podemos nos questionar sobre o que é liberdade, ou o que é melhor, sobre o que é ser livre. Acho que podemos nos questionar sobre essas questões, também.
Talvez o que aconteça seja que tenhamos um conceito na mão e procuramos aplicação para ele. Livre é uma palavra que serve para caracterizar uma pessoa que não está encarcerada, por exemplo. Também se pode falar em ar livre que temos um significado. Agora, talvez seja uma questão "extra" (eu entenderia como desnecessária) pedir o que é ser livre. Talvez não haja nenhuma resposta satisfatória; mas o mais importante (do que quero dizer) é que talvez não precisamos nos preocupar com isso (e com outras questões semelhantes). Talvez não haja motivos para buscar qualificar o que é uma pessoa livre. Ou qualquer outra coisa, como normal e simples. Acho que seria melhor, primeiro, ter um conjunto de pessoas, e a partir dela formar um vocábulo, se isso se fizer necessário. Algumas palavras já sobram em alguns sentidos, ou melhor, qualificam bem alguns casos (por exemplo, uma curva que seja simples [simples significa não ter auto-interseções, mas isso para uma curva!]), mas não considero necessário (ou melhor, considero inútil... mas tem gente que ganha dinheiro e status pensando em coisas inúteis [mesmo que estude e descubra que é inútil, dificilmente confessará]) que tenhamos que dizer quando que um homem é livre (independente de prisões), ou normal, ou simples.
Talvez alguém exagere e diga (defendendo a minha posição) que não devemos ser escravos das palavras.

27 janeiro, 2008

do resultado do vestibular

Aqui por essas bandas e pampas se comentam os resultados da lista dos aprovados do vestibular da UFRGS. Se não sabe como funciona a classificação, procure aqui (dica: é difícil achar uma descrição eficiente... as pessoas não se preocupam tanto com isso, e muitas outras aceitam). Agora, ao que interessa:
As pessoas que ficaram entre as 30% últimas vagas na classificação geral não sendo cotistas e não podendo passar (tudo isso foi a situação) reclamam seu ingresso. Que não podem ficar de fora enquanto pessoas (cotistas) entram na universidade com uma média (nas provas) bem inferiores.
Esse não é um argumento que se preste; aliás, a falta de reflexão sobre ele decorre do fato de ser ele o apresentado. Se se apresentassem também a soma dos pontos das provas (ou uma média sobre escores brutos, ou outra coisa que valha) teríamos espaços para mais discussões, e também as pessoas poderiam pensar em algo que começa com critérios e termina com critérios. Os critérios! Se foi decidido que declarar-se negro ou ser oriundo de escola pública (com algumas condições mais precisas, claro) ajuda a determinar quem entra ou não, não precisamos ficar falando só na média das provas.
Agora, se o critério é justo ou não, já é outra história. Eu preferiria bem mais que se investisse no ensino. (Mas note que a implantação das cotas veio da UFRGS [de órgãos muito altos, porque ninguém foi consultado entre os alunos], enquanto uma educação de qualidade vem dos governos.)

O mais difícil nas discussões sobre o resultado é que a maioria das pessoas fortemente envolvidas (as que passaram pelas cotas e as que deixaram de passar justamente por elas) tem uma visão bem parcial dependente da situação. Alguém pode pensar que são boas, porque deram uma oportunidade a quem sempre passou por dificuldades financeiras, e finalmente tem a chance de obter um diploma e conseguir exercer uma boa profissão (veja que sem isso parece que é sempre a mesma coisa... parece que sem estudo as profissões são sempre as mesmas, sem possibilidade de ascenção). Já quem não passou e seus parentes ficam bravejando contra o sistema que barrou o filho/irmão/neto de entrar na universidade; esses perguntam onde está a igualdade.
Como julgar? Acho que é difícil responder essa pergunta.

24 janeiro, 2008

sobre fazer fiasco

Conheço muita gente que por qualquer coisa fica se lamentando mais do que deve; esse é uma atitude bem comum. "Ah, eu não sirvo pra nada", ou "Ah, ninguém me agüenta" são exemplos. Posso tentar ser um homem que evita dizer essas merdas, daqui para frente. Posso tentar ser mais coerente com as minhas incapacidades para conseguir anulá-las, ou enfraquecê-las; acho que sabendo exatamente o que está errado fica mais fácil de melhorar e corrigir.
Bem melhor é ter algum controle sobre si para admitir-se exatamente como se é, sem exagerar para obter uma palavra de apoio. Nem fazer um escândalo sobre fatos que não se aplicam. Tentemos ser justos, ou melhor, quem quiser que tente.
Isso se as intenções forem boas; da sua estada no mundo não sei.

Este não é um post solitário, e também não foi escrito por uma pessoa ridícula.

O (um, para ser mais exato, e também fazendo uma construção distinta) chato é que cada um tenta se destacar e chamar a atenção. Daí tantos "amo"s, tantos "ninguém"s. A palavra perdeu seu sentido (há quanto tempo não sei dizer, nem estimo se pode ter sido desde cem ano ou mil anos atrás) em meio há tantos exageros; não mais se sabe quando é verdade e quando só se quer superestimar algo para poder chamar a atenção. (Pessoalmente: Tem que descobrir, pessoa por pessoa, o quanto ela valoriza o que ela fala. Existem pessoas terríveis nesse sentido.) Assim, ninguém sabe quando se quer dizer exatamente aquilo. Eu sou prejudicado; tento que o significado e a importância sejam exatas; para quem comparar, parecem coisas mais fracas. É uma situação parecida com todo mundo gritar para poder falar mais alto, enquanto seria mais fácil se todos falassem num tom mais baixo.

Fica difícil corrigir os erros se não os mensuramos bem; por isso dou importância a não exagerar. Na maioria das situações as pessoas não admitem os erros. O jeito mais trivial é ignorá-los; mais singelo é exagerar para fazer com que as outras pessoas (inclusive quem exagera) esqueçam o que foi exatamente.
Não sei se conheço alguém humilde com os seus erros. Sei que o budismo prega bastante disso, de tentar se melhorar e se conhecer, fazer o bem e buscar o autoconhecimento (que eu considero que seja agir melhor). Não acho má idéia essa doutrina; também me parece ao menos preferível que a pessoa perceba por si mesma.

("Ao menos preferível" é uma relação de ordem parcial. Em outras palavras, uma relação reflexiva, antissimétrica e transitiva. Sem exageros.)

21 janeiro, 2008

a vantagem de cantar

Quem canta, ou melhor, quem consegue cantar, ou formar uma banda e fazer com que outras pessoas ouçam sua música na verdade o que consegue é o direito de transmitir uma mensagem em sua música. Isso é, quem consegue o direito de ser ouvido (em música) ganha um espaço para falar de suas idéias. É exatamente isso que damos quando ouvimos: espaço para quem quiser expressar algo.

16 janeiro, 2008

do referendo do desarmamento

Lembro que uma ex-professora minha comentou que o referendo do desarmamento veio para que as pessoas esquecessem o mensalão e tratassem de discutir entre si sobre a proibição ou não da venda de armas de fogo e munições para civis. Pareceu uma observação pertinente, muito consciente das manipulações políticas atrás de um ato (eu nem havia me dado conta).
Outro dia, folheando uma revista de 2004, vi que o referendo já estava sendo planejado para aquele mês. Deixe-me fazer a conclusão: então não foi uma artimanha política para desviar a atenção do público (ou povo), mas serviu muito bem para alimentar a teoria da professora.

Um exemplo que importa. Que não demonstra, claro, como já discutimos, mas que exemplifica. Tomemos cuidado com os fatos, então.

11 janeiro, 2008

de poesia

Esquece teu passado. Esquece essas tuas últimas palavras. elas nada valem perante o mundo. Esquece as construções absurdas. Deixa de lado o que não existe. Existe pessoalmente. Evita a mentira, e também cuida da verdade. Esquece teus planos de flores e verde, assim como todos os cantos e músicas. O presente já é suficientemente triste, não o difames com teus sonhos. Nada vale tudo o que sabes. Nada vale.

E se eu disser que foi tudo planejado?
E se eu acrescentar que não é certo fazer versinhos? Não faças poesias das tuas letras.
E se a única forma
de eu dar
destaque
à idéia
é separar
palavras
linha
a linha?

10 janeiro, 2008

confusões do ser

Há fatos que se manifestam muitas vezes. Em alguma hora, eles ficam claros e tomam um corpo e acabam merecendo um post (num blog escondido e em desuso [a palavra não é tão boa, mas é essa mesmo que quero usar] pelos outros).
Ao contrário do que parece, este não será mais confuso.

É comum usar o verbo "ser" tanto para significar equivalência como inclusão/pertinência). Eu explico. Se digo que morrer é falecer, temos que "é" denota equivalência. Se digo que um gato é um animal, o sentido é que todo gato é animal. Muitos enganos são feitos com essas duas opções de significados (ás vezes penso que a pessoa escreve, e deixa os outros interpretarem para depois decidir o significado e a extensão de sentido do que foi escrito); como exemplos temos "Deus é caridade" e "amar é sofrer". O que se quer dizer exatamente com essas frases eu absolutamente não sei, mas acho que beira o abuso. (Lembro de algo que uma professora minha falou: se deixa propositalmente [o que não me parece ético, tendo em vista o ato de escrever, que devia ser sincero] espaço para duas interpretações: uma fantástica e errada, e outra trivial, mas correta.)
Na minha opinião, seria melhor se usássemos "é" quando quiséssemos indicar que um conceito se subordina a outro (do tipo canguru-marsupial). Quando duas coisas forem iguais, ou equivalentes, ou sinônimas, devemos indicar. (Isso coincide com algum uso em matemática; se se equivalem por uma relação de equivalência [é que pode haver várias], se indica. [Não sei exatamente por que, mas tenho a impressão de que é com matemática que se é mais sincero quando se escreve.])
Isso se há algum interesse em melhorar algo. Se preferes a confusão, e inibes o esclarecimento para justificar que todos os pontos de vista são iguais (ou "são", alguém poderia querer substituir [não dá pra confiar nem esperar muito]), eu simplesmente acho errada tua atitude.

de redações

A forma como se assume que se fazem redações é um "belo" exemplo de hipocrisia.
Ao se escrever um texto para expor as suas idéias (o que nem sempre ocorre; àsvezes pode ser uma exposição sobre uma outra pessoa, por exemplo) não é necessário dizer que o texto é a sua opinião. Além disso, nem recomendado é, pois dizer que é a opinião de alguém pode deixar o texto menos convincente. (Ou seja, ele não era tão convincente, mas com alguns recursos nem tão limpos ele aumenta seu poder de persuasão.) Pode-se simplesmente escrever as suas verdades como verdades como seriam mesmo (parece difícil dizer, quando as palavras já têm um sentido bem deturpado e impreciso; compreender parece-me fácil). O maior problema disso (para você ir pensando antes: é o mesmo problema de algumas pessoas obterem prêmios imerecidos) é que os textos que realmente falam de coisas reais (ou que tenham alguma lógica de verdade) podem ser confundidos com os textos de opinião simplesmente lançados por aí. Daí é bem possível tirar a graaande conclusão: que não há verdades, e que o que importa é a retórica (e que os juízos de valor são todos falsos e inválidos, e que não podem existir).
Eu ao menos acredito que não é tudo a mesma coisa (em algum "nível").

dois pontos

Quem não tem o que fazer faz :isso.

(Elaborei um uso inédito para os dois pontos generalizando uma "piada" bem comum.)

03 janeiro, 2008

um engano de José de Alencar

Claro que as coisas já aconteceram, e talvez chamar a atenção sobre elas não mudará o fato. Não se acrescentará nada de novo ao que havia.
Mas lembrarei que enquanto a Lei do Ventre Livre estava sendo discutida para ser aprovada, "Não vou me dar o trabalho nem de discutir essa lei. Ela é uma lei comunista", disse o conservador José de Alencar (o escritor). Ora, José, essa é justamente uma lei capitalista, precisa-se de trabalhadores e não escravos para consumir os produtos. Por mais prático que seja somente alimentar e "hospedar" os escravos, não seria assim que se sustentariam estômagos (raramente!) famintos como de burgueses e vendedores. Parece que se produzia tanto que eram necessários supérfluos para manter pessoas empregadas. E há cada vez mais supérfluos.

A cultura capitalista e consumista dá a toda mulher o direito de ser mulher no sentido de se embelezar e consumir produtos especialmente para elas.
E exatamente isso. (Dessa fonte. Quando fizeres vestibular deves estar pronto para entender ao menos o que eu quero dizer. [Será que um dia usarão um texto meu? Bom, melhor eu já tentar elaborar algo adequado a uma prova...])
(Melhor eu ter menos medo de ser mal interpretado e não tão corretamente compreendido. Agora uma explicação de por que isso acontece: estou acostumado a aulas, e em aulas os apontamentos são feitos por professores que preferem não deixar sentidos oculto. Acho que também prefiro ser assim quando explico algo a alguém: darei as visões que encontro no assunto. Não de negar interpretações alternativas, mas sim para impedir mentiras [há algumas mentiras {corretamente classificadas, ao meu ver}, sim, e argumentos que não são válidos]).

02 janeiro, 2008

dos substitutos da CPMF e de bem mais coisas, quase um terço, pelo que dizem

Agora que não há mais CPMF (com esse nome), foram propostas algumas medidas alterativas de arrecadação. Para compensar, conforme diz o ministro, e também dirão os da base "aliada" do governo. O que não sei ainda é o que fizemos de errado para merecermos tantos impostos (e contribuições compulsórias, do tipo contribui ou te cortamos o pulso), e porque tanto dinheiro assim precisa sair do controle da população para os poderes da "União". Na maior parte do tempo sou um construidor de sociedades antes que um individualista, mas acho que só faz sentido se o dinheiro dos impostos fosse empregado majoritariamente em benefícios (ei, não pessoais!) para a população. E não é o que sinto que ocorre.

01 janeiro, 2008

sucesso

Hoje muitas pessoas me cumprimentaram (sem que eu quisesse) e me desejaram sucesso. Bem original.
Na verdade pouco me importa o sucesso neste ano. Não há muito lugar para que eu brilhe ou tenha sucesso. O que eu quero mesmo é conhecimento (e não como novos fatos sobre coisas, mas também a forma de trabalhar com conceitos e as implicações), e muito desse conhecimento verá do curso que estou fazendo. Pouco importam as outras coisas. Ninguém me deseja conhecimento nem discernimento, só sucesso e tudo de bom.