31 agosto, 2009

Bens pouco duráveis

Não tenho a repercussão de um senador nem a certeza de um real envolvido, mas acho quase criminoso que produtos saiam de fábrica determinados a começar a dar problemas. Falo especialmente de computadores e impressoras. Não tenho como provar, e pode ser que haja uma explicação "mecânica", mas acho que os produtos estragam muito fácil fazendo você trocar o produto muito depressa.
E agora que isso está estabelecido, fica difícil para uma empresa começar a fabricar produtos de maior validade. Como ela poderia concorrer? Enfraqueceria o setor. (Não é o caso de um egoísta explorador no meio de altruístas.)

E a respeito dos salgadinhos que dão vontade de comer o próximo assim que você engole uma peça, o que dizer?

20 agosto, 2009

Usando o lema de Borel-Cantelli

Na verdade o título é uma enganação: vou usar a ideia de uma singela condição de um dos casos do lema de Borel-Cantelli. Mas, como vês, aqui se faz tudo pela simetria.
Se, pelo contrário, o título te afastou, azar o seu.

Vou falar sobre adaptação. Geralmente, nós podemos sofrer para fazer algo, até que o ato se torna suficientemente natural para que não soframos tanto: vamos nos adaptando. Pode ser ruim passar um dia sem chupeta logo quando se deixa de usar ela, mas depois deixa de fazer tanta falta. No início pode ser ruim ir na escola, mas depois podemos nos acostumar. Ou pegar ônibus lotado, ou enfrentar longas filas em bancos, ou ter de trocar uma lâmpada, ou usar salto alto.
É essa a história. (Ou estória? Cabe investigar...)
Claro que geralmente o sofrimento diminui com o passar do tempo: vamos nos adaptando à situação. Esse é um critério para o sofrimento: ele começa grande, mas fica menor cada vez que repetimos a experiências. E isso seria uma compensação para aprendermos a habilidade, ou colermos os frutos do hábito que começou ruim mas ao qual acabamos nos acostumando. Em geral, as pessoas acham que se o sofrimento (o "custo") diminui com o passar do tempo, pode ser uma boa empreitada.
Quero propor um segundo critério. Segundo ele, em vez do sofrimento ser cada vez menor, para a coisa ser considerada "suportável pelo segundo critério", a soma dos sofrimentos deve ser... finita!
No caso discreto, temos uma série. Ela convergir quer dizer que o sofrimento de cada dia (digamos que seja um ato por dia) decresce rapidamente. Por outro lado, se a soma dos sofrimentos ainda for infinita, pode não ser um custo viável a se pagar para adquirir a habilidade ou transpor o obstáculo. Por exemplo, se o custo por vez cair como o inverso do tempo (e isso no caso contínuo também), pode ser um preço muito alto a se pagar para a adaptação.
No caso contínuo, devemos pensar que temos algo como uma integral imprópria de custos. E eles podem custar pouco ou muito, conforme a área embaixo da curva seja finita ou infinita.

A origem desta ideia [a da postagem, cabeça] foi quando tentei usar lentes. O sofrimento podia ser menor a cada dia, mas ainda era suficientemente lento para decrescer. Conclusão: um custo muito alto a ser pago, segundo o segundo critério.

Eu ignorei que nossa vida é finita. Um erro que considero passável. De qualquer forma, propus um critério baseado em um critério matemático (muito melhor para avaliar séries e integrais impróprias que a mera convergência a zero). Por isso, talvez haja algo de interessante por aí.

Regras?

Existem muitas pessoas que não se importam muito em infringir algumas regrinhas, aquelas sem punição mas que regulam a convivência em uma sociedade. Tipo não furar filas, fazer silêncio em certos locais, pegar só uma sobremesa, esse tipo de coisa.
Geralmente essas pessoas (ou melhor, as pessoas em seus pequenos momentos de transgressão) conseguem compreender para que servem as regras; elas conseguem se pôr no lugar de quem as fez, e veem para que servem. Mas pensam que, se realmente é bom que cada um pegue somente os guardanapos que realmente precisar, isso já estabelece o equilíbrio e seguir a "regra" ou não não fará diferença. Ou seja; eles se põe no lugar de quem escreveu a regra ou ditou o comportamento e deixa de ver aquilo como uma mensagem a si, algo que deveria fazer ou evitar de fazer.

A idade facilita para que se encaixem nesse critério; as mais velhas têm maior aversão à mudança e preferem não ter seus hábitos questionados ou postos em pauta. (Espero que ninguém superestime o que está escrito aqui.)

13 agosto, 2009

Regras!

Não gosto do fato de um suspeito ter o direito de não reunir provas contra si. Quer dizer, se a pessoa se nega a fazer o teste do bafômetro, por exemplo, ela perde um pouco da legitimidade em dizer que não está embriagada. Ela teria a chance de se defender com perfeição caso usasse o bafômetro, desde que estivesse dizendo a verdade.
Outra coisa que me desagrada é a pessoa poder ficar em silêncio e não sofrer prejuízos por isso num processo. Quer dizer, se ela tivesse alguma explicação razoável para a história, não iria se enclausurar e deixar que o advogado fizesse algumas declarações de isenção de culpa, todo circunspecto. A gente dá sinais quando mente; deixar a pessoa se isolar, bolar uma história e depois ouvir o que ela tem a dizer por meio de outra pessoa enfraquece bastante nosso "senso de veracidade" (nossa percepção de que alguém está mentindo ou escondendo algo).
Note que esse meu argumento prega o contrário daquele do Karl Popper, o qual diz que ausência de evidência não é evidência de ausência.

Tudo isso motiva um novo jeito de fazer regras, e como tentar fazer com que sejam cumpridas.

Acho que os sistemas de regras (um nome razoável pra Consituição) deveriam ser construídos de forma que quanto maior o grau da burla, maior fosse a punição. Quer dizer, quanto mais auto-interferente fosse o delito, pior a pena.
Assim: o sistema prevê penas para determinados delitos, e quem os comete paga tais penas. Mas se a pessoa tenta dificultar o trabalho da "justiça", ela paga maiores penas por isso. Sei que "obstrução da justiça" já é um crime previsto, mas acho que ele devia ser a base. Quanto mais a pessoa se alegasse inocente, se estivesse mentindo, pior seria para ela. (Há um sério defeito aqui: e se ela estivesse dizendo a verdade o tempo todo? Aí acho que um inocente sofreria muito por ter sido sincero...)
Da mesma forma, crimes envolvendo o cumprimento da sentença deviam ter maiores punições. Subornar juízes para obter julgamentos favoráveis (quando descoberto), tentar escapar da prisão ou mesmo contrabandear armas/celulares/drogas no seio do sistema de punições é algo bem errado. Crimes podem ser cometidos fora do sistema; é ruim mas faz parte, e acontece com as pessoas. Mas depois de ingressarem para serem punidos ou julgados, acho que deveriam tentar ser os mais limpos possíveis.

Seria um absurdo, ou pelo menos inviável, pedir tantas punições se nossos presídios quase não comportam mais presos e estão todos explodindo. Então, a forma de defender o que estou falando é propor que crimes que tenham sido resolvidos sem muitos problemas tenham penas menores. Quer dizer, assassinato realmente é ruim, mas acho que as penas podiam ser abrandadas caso o réu confessasse honestamente (alguns desses crimes não são pensados como um desvio de dinheiro, um esquema de sonegação fiscal). Já aqueles que afetam o cumprimento das regras podiam ter penas um pouco mais severas.
É uma ideia.

Um uso do lema de Borel-Cantelli

Esse lema é genial, fantástico. Mui bonito. Se quiser saber mais sobre ele, pesquise na internet. Obrigado pela atenção.

Já terminou? Não, não tão cedo.
O lema de Borel-Cantelli implica que em um experimento realizado infinitas vezes independentemente, qualquer evento com probabilidade positiva ocorre infinitas vezes. Exatamente o esperado.
Para qualquer acontecimento, então. podemos dizer, felizes e inocentes: Borel-Cantelli. Por mais absurda que a coisa seja, ela acontecerá infinitas vezes. Claro, é só uma piada; uma versão aprimorada da Lei de Murphy (a qual não é lei) que serve também para acontecimentos bons que sejam raros (ou pelo menos possíveis).
Essa observação é parecida com uma do tipo "É o destino" ou "Deus quis assim". Quer dizer; não acrescenta em nada.