11 setembro, 2010

O experimento das orações

Há alguns anos atrás, foi feito um experimento científico [com muitas variáveis padronizadas] em que diversos pacientes receberam orações para se recuperar de um certo procedimento médico. Havia três grupos: os que recebiam e não sabiam, os que recebiam e sabiam, e os que não recebiam e não sabiam. Não ocorreu nenhuma diferença entre os grupos que não receberam preces (mas os que sabiam receber demoraram mais para se recuperar).

O que quer dizer que um fato é verdadeiro, ou que um procedimento funciona para algo? Há várias formas de pensar. As mais "profundas" (que são as mais abstratas e muito menos práticas) não nos dão diretrizes, nem sabemos direito o que é "ser verdade". Há formas que parecem ter uma série de contradições internas (e cá entre nós, é o sistema que algumas pessoas que não pensaram muito usam), e aceitam depoimentos como prova de fatos.
Um método que é ao mesmo tempo frutífero e com capacidade de autocrítica é o ponto de vista estatístico. Não se aplica a tudo, mas se puder ser usado para construções sólidas de conhecimento, ou um conhecimento mais um método contínuo de aprimoramento. Um dia a gente se maravilha em ver o quanto é possível discernir usando uma técnica como falseabilidade. Outra ideia muito boa que ouvi num programa de rádio [bem escolhido] para testar um conhecimento: se perdermos todos os dados, todos os livros com esse conhecimento, poderemos reconstruí-lo? Se a resposta é não, pode-se desconfiar que esse conhecimento é mais cultural que natural. (Nem sei se deveria ser chamado de conhecimento, para o propósito restrito do post.)

No cerne da ciência ou do método científico está a "crença", ou a confiança, de que os fenômenos são regidos por uma lógica ou matemática infalível, que não estamos vulneráveis a deuses fanfarrões ou distribuidores gratuitos de chuvas e raios. Esta não é uma "crença" tradicional, como a crença num fato, mas sim um método que pode ser seguido para obter conhecimento do mundo natural (e eventualmente vender eletrodomésticos) de uma forma razoavelmente confiável.

O que quer dizer que um medicamento cura? Se ele cura, tem que fazer alguma diferença estatisticamente. Do contrário, sem critério, até comer roseiras cura.

Por isso, acho que se religiosos afirmam que orações funcionam, e que explicam fatos que do contrário não teriam outra explicação, os grupos da pesquisa deveriam ser curados diferentemente. Claro que um experimento não é definitivo; nossos conhecimento e capacidade de previsão se aprimoram com o tempo conforme fazemos mais experimentos e pensamos mais sobre eles. Nesse caso, sei que não há só esse que mencionei, e não sei quantos estão sendo feitos e quais suas abrangências, mas são fótons jogados sobre essa placa de conhecimento.

Eu sei com muito mais segurança como derrubar uma cadeira que o que acontecece após a morte. E as pessoas em geral também põe seus domínios de conhecimentos na mesma ordem. Contudo, há pessoas com muito prazer em afirmar o que não sabem (tecnicamente elas só repetem, os que inventam são poucos), e que torcem o nariz para testar a sua hipótese, principalmente depois que o experimento dá evidências contrárias. (Pessoalmente, sinto prazer em dizer às pessoas que elas nem poderiam saber, no momento, as coisas que não sabem mas afirmam.)