15 dezembro, 2011

aborto

Eu sou contra a descriminalização do aborto. Não por achar que o feto é uma vida humana, e tal. Pra mim não importa se a vida começa na fecundação ou no nascimento; esta é uma questão puramente etimológica. O que importa é como devemos tratar os fetos. Penso como um consequencialista/utilitarista (e só neste; não quero me prender a um rótulo para dar a opinião sobre os outros assuntos).

Não acho o aborto um direito natural do ser humano (nem da mulher, como pretendem algumas feministas). Não vejo por que seria. Ninguém é obrigado a engravidar; temos um verdadeiro arsenal de escudos contra a gravidez. Um deles, o preservativo, inclusive protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Se o aborto for liberado, diminuirá a pressão (principalmente sobre o homem) para o uso de camisinha, já que haverá uma defesa derradeira contra a gravidez indesejada (o aborto). Deve-se esperar um aumento de DSTs na população, já que o principal mecanismo que previne o contágio é a camisinha (além da abstenção). Outra consequência da liberação do aborto, um pouco sutil e pessoal, é tirar das pessoas, geralmente dos jovens imaturos, a responsabilidade sobre seus atos. Não quero ser moralista, mas quando uma pessoa engravida outra, elas têm que assumir as consequências. Este (o incentivo à irresponsabilidade) é um segundo dano à sociedade (além da maior incidência de DSTs), e contribui para meu posicionamento contra o aborto.

Há exceções em que raciocínio anterior falha, e o aborto passa a ser aceitável ou desejável. Por exemplo, quando representa risco de vida à mãe, ou quando a gravidez é resultado de estupro (dois casos onde o aborto é assegurado pela legislação). Pode haver outras possibilidades, mas minha imaginação não as está alcançando.

[Aproveito o clima de fecundação para dizer que eu nunca fui um espermatozóide. Eu só sou eu a partir do momento em que um espermatozóide se fundiu com um óvulo.]

09 dezembro, 2011

sobre a indicação de Rosa Weber para o Supremo Tribunal Federal

Indicar uma mulher para uma posição somente por ser mulher é tão machista quanto descartar as mulheres como candidatas à posição por serem mulheres. No primeiro caso se descartam os homens; no segundo as mulheres. Foi o que a presidente (ou interina, não estou certo ainda...) Dilma fez; foi seu exemplo de demagogia da semana.

PS: As cotas raciais vão pelo mesmo caminho. E quero colocar duas expressões na mesma frase: novilíngua (newspeak) e ações afirmativas. Obrigado.

04 dezembro, 2011

Por que você é um merdinha

(Agora que descobri o que é viés cognitivo, não paro de vê-lo nas atitudes das pessoas (inclusive minhas). Comecei a reparar também na autojustificação (nesse caso estaria mais relacionado à dissonância cognitiva, outro fenômeno do cérebro). Agora esses fenômenos mentais são bem mais explícitos do que nunca, e estou muito feliz por ter descoberto algo novo que me faz pensar todo o tempo. Faço essa introdução para dizer que eu não li tanto quando deveria sobre o assunto, e é exatamente por não saber direito quero mencionar algumas experiências relacionadas e escrever sobre o assunto antes de ter uma visão amadurecida. Mesmo me expondo bem mais a erros, quero escrever um post na base do achismo mesmo. Depois que eu souber mais sobre o assunto, postarei de novo. Acho que esse é o melhor caminho para estudar o assunto de mais maneiras e alargar minha compreensão do assunto. Mas fim de papo. Finjamos que o post comece abaixo.)

Reparo que as pessoas sempre conseguem justificar seus atos e ainda deixarem salvos seus padrões morais. Você desaprova qualquer manifestação racista, mas colorados (torcedores do Internacional, um clube de futebol) são macacos. Não temos nenhum preconceito contra homossexuais, mas o novo orkut é uma bichice. Mentir é errado, mas quantas vezes não se mente numa declaração de renda, fazendo pequenas omissões ou arredondamentos com desculpinhas ("ah, isso não entra no imposto", ou "ninguém vai verificar mesmo") nas quais realmente queremos acreditar. Eu tenho uma vida saudável, mas meus programas de exercícios e alimentação duram só os primeiros dias. Você diz que decidiu beber menos, todo orgulhoso de si, mas ainda é segunda-feira. Todo mundo é a favor da construção de novos presídios, mas não aqui. Há toneladas de outros exemplos, mas eu não vou me alongar (julgue você mesmo se este é um exemplo!!!).

Várias vezes o que acontece é que as pessoas assumem um ponto que é confortável pra elas, como se fosse o vértice mais inferior da letra V. Sempre se pode dizer algo bonito e satisfatório sobre como nos cuidamos, sobre quanto honestos ou corretos nós somos, e ainda dizer que não somos radicais (veja só! outra virtude nossa!) quando somos confrontados com nossas atitudes. Grandes canalhas nós somos, todos nós. Inventamos qualquer justificativa para nos perdoarmos de nossos vícios, defeitos e incoerências. É ridículo. (Pesquise mais sobre dissonância cognitiva. Eu pesquisarei.)

(Não deixa de ser curioso que todo este post e a minha angélica intenção de conhecimento formam um exemplo de um viés cognitivo, mas precisamente viés (ou tendência) de confirmação. Estou hiperanimado (eu era muito bom em português, mas depois dessa reforma ortográfica não sei mais hifenizar!) para pesquisar sobre esses assuntos, mas ao mesmo tempo reconheço que gosto bastante de ler sobre eventuais defeitos de julgamento do cérebro, e que estou ávido para ler as coisas que confirmam o que eu penso! Que coisa terrível, estou completamente enviesado e acho que vou aceitar muito facilmente o que me disserem como evidências de erros cognitivos, e praticamente ignorar as eventuais críticas. Preciso tomar cuidado para não me deixar levar.)

Não sei exatamente em que nível que se processa a má-fé das pessoas. Não sei se é mais vontade de convencer os outros ou de se convencer. Mas para mim há muita má-fé em muitas declarações. Comumente decidimos omitir o que desfavorece nosso ponto de vista por já "saber" que não são evidência suficientes para minar nosso argumento, e mencionar, nos justificamos, só iria confundir as outras pessoas. Lembro de uma reportagem, se não me engano, na revista Época, sobre o Lula e o SUS, condenando todos os que diziam que era um preconceito sugerir que ele se tratasse no SUS (ele está se tratando de um câncer enquanto escrevo). Quem ler vai concordar com o que está escrito, mas quando sabendo de mais coisas, nosso julgamento deveria ser diferente. A reportagem não menciona que Lula considerava o SUS próximo da perfeição (parece que ele até sugeriu que o Obama fizesse um, sábio internacional que é), e que disse que tinha vontade de ficar doente para se tratar numa unidade pública de saúde. Não acho que por isso Lula deva se tratar no SUS, mas acho que estas novas informações, omitidas na reportagem, legitimam as pessoas a levantem essa questão e a confrontarem Lula com sua próprias palavras.  Devo destacar, também, que me dá um sentimento ruim ler publicado algo com que não concordo, e me dá um alívio quando leio pessoas publicarem a mesmo opinião que eu tenho. Vejo isso bem mais claramente agora.

Outra fenômeno incrível (sobre este nunca achei referências; quem conhecer me avise) ocorre quando há uma discussão pública, geralmente em mídia escrita, com artigos ou posts, por exemplo. Os dois lados conseguem ter razões, e quem já defendia um lado acaba somente fortalecendo sua posição. Digamos que há dois sujeitos de diferentes opiniões, X e Y, e escrevem alternadamente os textos A, B, C, D, E e F, nesta ordem. Quem lê X vai ver o texto A, o texto C desmontando o texto B, o texto E desmontando o texto D. Ou seja, vai ver ao longo de toda a discussão, cada vez mais surgiam argumentos que somente fortaleciam o ponto de vista de X. Já as pessoas que leem Y vão ler o texto B que critica o texto A, o texto D criticando o C, o texto F criticando o texto E, e encontrarão uma montanha de argumentos sustentando a posição de Y. Assim, cada lado sai com mais certeza ainda da discussão, certo de que além de destruíram completamente a sustentação do ponto de vista oposto. Isso não ocorre só na mídia escrita, claro. Ao menos no meu ponto de vista, isso acontece nas várias vezes em que discuto e que sinto sair vitorioso. Penso que o outro lado também pense sair vitorioso.

Resumindo: o pensamento funciona mal, e nossos cérebros são ferramentas defeituosas. Quem escreve aqui neste blog é um cérebro (que explora alguns ossos e músculos anexados), que clama ser defeituoso.

18 novembro, 2011

Da esquerda, ou extrema esquerda.

Os últimos acontecimentos envolvendo a invasão da reitoria da USP revelaram muito do pensamento do que é a esquerda, ou extrema esquerda. Vamos analisar alguns pontos que eu acho mais flagrantes. Como existem pessoas com um pensamento bem obtuso, devo ressaltar que às vezes faço uso da ironia.

Os esquerdistas confundem (não tão inocentemente assim; faz parte de um método) autonomia universitária com soberania. Eles causaram uma grande baderna quando policiais flagraram três estudantes no campus portando uma quantidade de maconha que caracterizava tráfico. Na verdade o assunto envolve um histórico, mas não estou a fim de citar.

Tendo uma assembleia para decidir se invadiam a reitoria como resposta à presença policial, ganhou o voto para não invadirem. Horas depois, quando a maioria já tinham ido embora, puseram de novo o assunto em pauta e daí ganhou o voto para invadirem. Votação só tem legitimidade quando acontece o que esse grupelhos querem. Daí invadiram a reitoria.

A reitoria tentou negociar. Os invasores reclamavam que a reitoria era intransigente, mas eles é que não aceitavam qualquer resolução que não incluísse a Polícia Militar fora do campus. Incrível.

Dias depois, a Justiça expediu um mandado de reintegração. (Não entendo de Direito; acho que estes são os termos corretos.) Os invasores ficaram, e só saíram com a força policial. Eles provocaram, mas nenhum "estudante" saiu ferido. Sabe como é, esse pessoal precisa criar um clima de guerra, de oposição. Reclamaram da truculência da polícia, que estava cercando a USP, e outras bobagens até difíceis de contar de tão absurdas. Enquanto isso, havia gasolina e coquetéis Motolov preparados na reitoria, tudo pronto para fazer bastante confusão.

Resolveram então, no controle do DCE... decretar greve geral. A razão era a truculência da polícia, e sua presença no campus. Infelizmente, não era greve o que a maioria queria. Inclusive, quando se faz uma pesquisa em vez de uma assembleia, a maioria dos entrevistados também é favorável à PM. Mas que isso importa para a causa revolucionária? Outra coisa que pedem é eleição direta equiparitária para reitor. Há várias nuances aqui. Só vou mencionar que em nenhuma universidade séria no mundo o reitor é escolhido assim (os motivos fazem parte das nuances).

Fizeram vários esforços em impedir as aulas, bloqueando prédios e intimidando professores e alunos que quisessem aula, ou que por ventura se manifestassem publicamente a favor das aulas. Coisa muito parecida acontece numas ditaduras por aí.

Ano que vem, pretendem fazer a maior greve da década. Por que razão? Não se sabe. Um deles afirmou que o motivo vinha depois. A intenção é óbvia: desgastar o governador e o prefeito de São Paulo, que não são petistas. Curioso que muitos servidores da federais, inclusive na UFRGS, ficaram em greve por quatro meses, dificultando ou impossibilitando vários serviços. Quem precisava se formar que o diga. Mas isso praticamente não foi notícia nem manchou o governo. Acho que algumas pessoas deliberadamente fazem o assunto aparecer mais quando é contra alguém fora da semi-reta da esquerda.)

Num outro dia, fizeram outra assembleia. Em geral, elas são no horário de aula e duram horas, de modo que uma proporção bem maior de vagabundos que estudantes de verdade podem acompanhá-las. Supostamente, votaram para decidir o fim da greve na  Faculdade de Letras. O curioso é que depois de conferidos os votos, só podia se manifestar e falar em público quem tinha se abstido de votar. Aconteceu que essas pessoas supostamente neutras eram praticamente a favor da greve, ou de uma paralisação, para ser votada noutro dia. Ou seja, se você é aluno e quer estudar, tem que passar bastante tempo só frequentando assembleias longas votando várias vezes contra paralisações, e ainda conseguir que mais pessoas façam isso. Uma dessas pessoas "neutras" (pra mim ela se absteve para poder discursar) disse que quem queria a PM no campus era fascista. Ora, algumas atitudes acima (e abaixo, pode apostar) são fascistas. Quando outra pessoa foi discursar para responder... não deixaram! Afinal, o circo é deles. Democracia e liberdade de expressão só é bom para repetir as próprias ideias.

A eleição para o DCE estava marcada para os dias 22 a 24 de novembro. Já houve vários casos de impugnação de urnas no passado (e parece que o DCE atual é quem organiza a eleição). Havia uma chapa que não era de esquerda, que não estava alinhada a PT, PSOL, PCO, PSTU e companhia, que defendia a excelência no ensino e na pesquisa (que absurdo, que alienados!), e parecia que ela ia se sair vencedora. Mas isso não pode acontecer! O DCE então (lembre que ele é controlado por grupos de esquerda) declarou que por causa da greve, não haveria eleição esse ano! Golpe! O DCE não pode mudar a data da sua eleição (segundo o Regimento, somente o Centro de Assuntos Estudantis poderia fazer isso). Isso mostra como essa gente se apega ao poder. Eles não aceitam perder.

(Isso me lembra o Jean Wyllys, ex-BBB e agora deputado federal pelo PSOL, que achava que não devíamos fazer um plebiscito sobre casamento gay, porque o povo "que não é bem informado" não votaria corretamente. Ou seja, não é uma questão de opinião ou maioria; ele simplesmente sabe o que é o correto. Os que discordam dele são fascistas ou estão mal informados.)

Outro caso foi quando alguns brucutus foram intimidar um integrante da chapa não-esquerdista. Para se defender, o sujeito afirmou que estava armado. E não é que então, doidos por pegar um adversário, os brucutus chamaram a polícia? Bem, o rapaz não tinha arma nenhuma. Mas não tem problema; é suficiente para tentar caracterizar os adversários (Lula diria simplesmente "eles", apontando por cima do ombro) como violentos.

E a história continua... (será que se repete ou rima?) Porque já vi histórias parecidas aqui na UFRGS, embora em geral com menos intensidade. Soubera isto na época em que eu ainda era aluno de graduação...

Fico imaginando se era esse o tipo de pessoas que lutava contra a ditadura militar. Sim, porque hoje eles recebem indenizações e dizem que estavam lutando pela democracia (alguns estavam mesmo), mas havia vários cujo objetivo era implantar o comunismo no Brasil, comandado por eles. Não sei não. Estou começando a me emancipar da opinião dos professores de história e geografia (no Ensino Fundamental) e estou começando a achar que a ditadura militar não foi uma completa algoz da democracia.

16 novembro, 2011

Vieses cognitivos (um elogio da imperfeição)

Você confiaria em um produto que se dissesse invulnerável a erros e por isso não tivesse garantia? Eu não. Prefiro aqueles que reconhecem que podem falhar ou apresentar defeitos, e por isso apresentam garantia.

Levo isso em conta tratando de mim e dos outros. Sempre acabo perdoando os comportamentos e pensamentos alheios por mais idiotas que sejam, achando que todo mundo tem os seus deslizes e defeitos, e que isso não previne ninguém de ter uma mente sadia e funcional.

Há dois fatores influentes no perdão acima. O primeiro é uma crença ou confiança no indivíduo, na sua capacidade de pensar. O segundo é a natural ocorrência de falhas em muitos aspectos da mente humana, e é o que faz a ligação com o primeiro parágrafo. Muitas vezes temos nossas opiniões e atitudes borradas por mesquinharias, por orgulho ou vaidade. Reconhecer que isso acontece não é incentivar esses comportamentos. Penso que vale exatamente o contrário; é o que mais nos valoriza como pessoas. Reconhecer nossos defeitos é meio ápice do humanismo (a outra metade do ápice é reconhecer as virtudes).

Outro momento em que devemos levar isso em conta é na feitura das leis. Códigos de lei que supõem que todos são príncipes não irão muito longe. Leis devem ser feitas para lidar com porcos que eventualmente vão infringir as leis e que vão buscar eventuais furos para burlá-la.

Esse reconhecimento dos erros internos pode ser usado justamente para impelir-nos à frente, tirando alguns obstáculos do caminho. Alguém que não possa admitir que possa estar errado vai ficar estagnado no mesmo erro. O oposto é a proposta da ciência: saber que tem incorreções e imperfeições, e com isso ter caminhos para mudar e corrigir o que foi dito e feito. Essa é a postura que devemos ter como pessoas também. Ao menos é o que pretendo seguir (tentando ficar livre da vaidade de poder dizer algo assim).

Entre muitíssimas outras coisas, acho curioso que duas pessoas possam sustentar opiniões completamente diferentes, mesmo quando expostas à mesma evidência. Mesmo se tratando somente de raciocínio abstrato, pessoas podem diferir no que devemos ou podemos fazer com as assertivas. Isso é estranho para quem pensa numa razão suprema. Depois de ler sobre vieses cognitivos, em especial tendência de confirmação, minha vida mudou (adquira agora mesmo o seu!). Em parte confirmou algo que eu já esperaria ou gostaria que fosse: a mente humana é sujeita a muitas falhas.

Para quebrar o padrão, embutirei um vídeo no blog.


Esperem novas postagens com a minha mais nova ferramenta!

Criacionistas, Chávez e alguns petistas: um paralelo

Os criacionistas me dizem que são plenamente a favor da ciência. Dizem que a única coisa que eles são contra são os usos indevidos da ciência, ou seu mau fazer.

Hugo Chávez também é a favor da imprensa. Claro, não aquela imprensa que noticia fator desfavoráveis ao governo, por representarem notícias contra a Venezuela; esses jornalistas merecem a cadeia, quando menos.

Alguns petistas (incluindo o chefão e o chefe de quadrilha, mas ao que parece não a presidente) gostam tanto da mídia que querem democratizá-la, minando o poder dos conglomerados reacionários e de direita, que aparentemente não suportam o Brasil justo e cheio de oportunidades construído nessa última década.

Preciso reler o romance 1984, de George Orwell, de preferência em inglês. Quero reavivar na minha mente o conceito de novilíngua (newspeak).

Estou ciente de que procuro uma fonte que vá reafirmar minhas convicções prévias. Eu recomendíssimo esta lista de vieses cognitivos (em português), ou esse artigo sobre viés ou tendência de confirmação (em português). Vai ajudar o senhor leitor a conhecer um pouco do vocabulário que este blog apresentará daqui para a frente.

14 novembro, 2011

Voltaremos

Tenho catorze temas já escolhidos para escrever, entre rascunhos antigos, frases perdidas e novas ideias. Aguardemmmm.

27 outubro, 2011

sobre postura e crença

Sou profundamente contaminado pela ideia de modelo. Sempre penso que há hipóteses ou princípios e que a vida pode ser vivida através deles, mesmo que eles não sejam gerais, absolutos (e nem validáveis como verdadeiros e falsos). Por exemplo, minha posição de ateu significa que eu vivo como se não houvesse mitos (o Deus do livro Bíblia é, na minha classificação, um mito, assim como o Cthulhu das obras de Lovecraft) ou entes sobrenaturais. É uma questão mais de postura que de crença.

Às vezes o meu palpite sobre o funcionamento do universo é diferente do modo como eu vivo. Só consigo recordar-me de um exemplo. Pelo que eu imagino do espaço-tempo através do modelo simplérrimo que tenho na cabeça (uma variedade - quem disse que o universo deveria ser tão simples e se encaixar num conceito que os seres vivos criaram em cinco bilhões de anos?), mesmo com as imprecisões e incertezas da mecânica quântica, pra mim a única coisa realmente coerente é um universo fatalista (e universo pode ser bem maior, podendo incluir nele mesmo o que outras pessoas chamam de realidades paralelas). Não consigo imaginar que o tudo possa ser diferente do que é.

Na verdade, penso na incerteza de algumas variáveis como um problema (ou melhor, particularidade!) da teoria e das medidas, não como algo intrínseco à matéria/energia. E em última instância não dá para conhecer algo fora da teoria (do modelo, das hipóteses, dos princípios, do jeito de ver e denotar). Fora do modelo, as perguntas não fazem sentido ou pertencem ao que chamo de filosofia. Nada contra filosofia, só acho que suas perguntas não têm uma resposta no sentido que uma pergunta dentro de um modelo teria.

Apesar da minha "aposta" fatalista, não posso (ou seja, não quero) adotar isso como uma moral para mim. Eu vivo como se eu tivesse escolhas. Se tenho ou não, não sei e acho que não dá para saber, mas vivo como se tivesse.

Eu diria que sou cético em relação ao conhecimento. Até a lógica (tradicional) para mim não é intrínseca. Normalmente, parece verdadeiro e óbvio que

A implica B (hipótese 1)
A                (hipótese 2)
B                (conclusão)

Mas... por que? O que quer dizer "implica" a ponto de concluirmos uma coisa da outra? Não acho que possa ser. A menos que sejam por uma definição a mesma coisa. Mas aí usar das definições assim é patinar na glicose. Mas como a lógica (tradicional) está funcionando e parece intelectualmente razoável, mantenho-a como parte do time.

Não acho que essa consciência (isso do meu ponto de vista; outros podem, com suas razões, dizer que é um palpite ruim meu) de que as coisas com que lidamos não têm valores intrínsecos e devem ser avaliadas num contexto em que, por exemplo, se saiba o que é avaliação seja realmente necessário, mas penso que é útil. Não é necessário porque seria muita arrogância dizer que todo mundo devia pensar o mesmo que eu (e isso significa que eu deveria deixar livres [em pensamento e atos] as pessoas acreditarem num mito sem as minhas ponderações sobre diferenças entre postura e crença), e no fim podemos viver mesmo que as pessoas vivam num modelo dentro do modelo de outra (porque se eu pensar, o jeito que eu lido com as coisas, como descrito aqui, também é uma espécie de modelo). Também acho que é útil porque podemos ver de forma mais crítica qualquer palavra proferida e julgá-la de forma mais abrangente.

Isso de achar útil mas desnecessário também é meu, assim como qualquer opinião deste blog. São só coisas que eu acho e com as quais eu vivo, ou tento viver, de acordo.

Não sei como devo chamar-me por assim ser e pensar.

18 outubro, 2011

um erro em analisar as consequências

Considere um problema em que temos duas ou mais opções para escolher e que cada uma vai nos levar a diferentes consequências, e queremos saber qual a melhor. Pegando exemplos na sociedade civil, a legalização da maconha, a existência da meia-entrada para estudantes, a possibilidade da pena de morte. Como devemos pensar para tomar tais decisões?

Um grande erro que se comete, erro que também já cometi, é analisar como seria um mundo com cada uma das alternativas, mas ignorar que tivemos que fazer uma mudança em um dos casos.

Por exemplo, não adianta pensar como seria um universo em que as bebidas alcoólicas fossem proibidas e comparar com o mundo atual (na qual não são, não aqui no Brasil). Para saber se devemos ou não proibir as bebidas alcoólicas, devemos analisar o melhor entre deixar como está e fazer a mudança. Uma grande diferença, não?

Outro "erro", mas que no caso é praticamente proposital (uma atitude "política"), é discutir assuntos que têm bem menos relevância no resultado que se quer chegar do que outras possíveis ações ou práticas. Por exemplo, houve uma grande discussão sobre o "Estatuto do Desarmamento" (na qual me envolvi seriamente quanto podia), com direito até a referendo. Agora acho uma perda de tempo deliberadamente criada para desviar a atenção dos reais problemas de segurança no país. Teria sido bem mais válido fazer ações contínuas em melhorar a força policial e tentar resolver (num sentido meio matemático) um pouco da burocracia que envolve julgar um criminoso.

22 setembro, 2011

das construções linguísticas e da sua necessidade

Eu tento falar e escrever um português correto. Se possível, até faço umas construções um pouco mais complicadas que o normal por puro exercício (é legal construir algo complexo e saber as regras que decompõe tal complexidade).

Principalmente por necessidade, eu devo saber me expressar bem em inglês. É do meu interesse saber expressar com exatidão a relação entre objetos e ideias. Gostaria bastante de dominar inglês como domino português a fim de poder me comunicar efetivamente, quando precisar.

Engraçado é que parece que você não precisa saber falar bem inglês para ser entendido. Agora acho que basta colocar umas palavras relacionadas com o que você quer dizer e voilá!, o interlocutor entende. Claro que pretendo falar e escrever a um nível melhor que esse.

Penso nisso porque hoje ouvi alguém perguntando as horas com a frase: "Que hora é isso?". A impressão que tenho é que em português, pelo menos, existem pessoas que falam algo parecido com português aqui no Brasil, e que conseguem se comunicar efetivamente entre si mesmas, e se fazerem entenderem razoavelmente bem, mesmo que cause estranheza ao ouvinte. (Na verdade não é algo binário, falar bem ou falar mal; podem existir gradações nesse aspecto.) Não sei se estou sendo demais preconceituoso, ou se não estou enxergando e reconhecendo a evolução da linguagem, mas eu não gostaria que minha expressão fosse feita em frases toscas e grossas, compreensíveis ao puvido mas imprecisas gramaticamente/sintaticamente. Isso vale para português e inglês.

Espero estar sendo suficientemente claro. Desconfio que em muitas postagens tenho relaxado e escrito ideias de qualquer maneira, esquecendo de lapidar melhor as sentenças. Não quero este blog somente como depósito de pensamentos (se assim fosse, eu poderia escrever como me desse na telha), mas também como um canal de troca de ideias (principalmente doações da minha parte). Os futuros Nobels da Paz (pelo conteúdo dos meu escritos humanísticos) e de Literatura (pela desenvoltura e inovação) são lucro.

17 setembro, 2011

sacrifícios finitos por recompensas infinitas

Costumava pensar que sempre vale a pena fazer um sacrifício temporário se depois teremos uma recompensa (ou melhora) duradoura.
Hoje me dei conta de que devo abandonar essa máxima. Afinal, nossa vida é finita, e dependendo do prejuízo temporário, ele pode ser danoso o suficiente para não compensar uns anos de uma situação melhor. Se a vida fosse infinita, aí, quem sabe.

08 setembro, 2011

teoria do zoneamento ecológico, dilúvio e explosão cambriana

Esta postagem é uma réplica a este post do blog "Zonas de subducção". Eu ia postar como comentário, mas depois de conseguir perder o texto inteiro (sim, estou digitando pela segunda vez...), percebi que seria melhor se eu postasse no meu blog. Ele estava com falta, já, de mim. Alerto que não tenho formação de nível superior em ciências naturais. Feitas as ponderações iniciais.

Como é difícil combater sem se saber o adversário, vou tentar entender o que foi dito no post. Pressuporei que foi dito que houve um dilúvio de proporções globais, que afogou quase todos os animais, dos quais um casal de cada espécie sobreviveu, eventualmente salvos num barco de um tio bondoso, ou quem sabe fugindo para cima.

Não vi nada aí contra a ancestralidade comum dos seres vivos conhecidos.

1) Há vermes que nunca se fossilizam. Se a inexistência de fósseis antes da explosão cambrianda sinaliza que tais animais surgiram momentos antes (e eventualmente ao mesmo tempo), então devemos supor, fazendo uma analogia bem simples e boba, que tais vermes surgiram somente ontem.

O ponto é que é preciso cumprir certas condições para poder ser fossilizado (ter materiais duros, por exemplo). Faz sentido pensar que os seres vivos passaram a se fossilizar somente depois de ter essas propriedades fossilizantes (e que não a tinham antes). Quando poderia ter sido conquistada essa propriedade? Possivelmente na época da explosão cambriana, o que explica o motivo de os seres mortos passarem a se fossilizar.

Se parece muito intrigante que seres vivos não aparentados desenvolvam partes fossilizáveis ao mesmo tempo, talvez possa se pensar (uma hipótese minha) que houve uma mudança em um ser vivo, mas que ele passou a produzir material ou criar condições para todos os outros ao mesmo tempo. Por exemplo, digamos que exalasse no ar ou expelisse na água uma substância que era indistitamente absorvida pelos outros organismos, e essa substância dentro deles permitia que eles se fossilizassem. Poderia ser também uma mudança nas rochas ou no jeito em que os organismos eram sepultados, mas isso me parece meio difícil, para mim, de imaginar.

Quero aproveitar o momento para lembrar (ou sugerir) que ignorância não implica impossibilidade.

2) Não sei se dá para encontrar os concestrais das plantas e dos animais. Se eles não foram fossilizados, precisaremos de um outro tipo de impressão do passado para descobri-los (claro que nem todas impressões são fósseis, há as pegadas e o vazio deixado por seres vivos numa pedra, mesmo que não haja mais o material orgânico; só quero dizer que talvez tivesse ser um tipo de impressão nova).

Segundo a "história" do livro "A grande história da evolução", do Richard Dawkins, os concestrais de animais e plantas (ou seja, os seres mais recentes que são ancestrais de todos animais e de todas as plantas) são mais antigos que a explosão cambriana. Ainda mais se tais seres não eram fossilizáveis nem deixavam impressões, fica difícil achar eles em sítios. Mas não excluo a possibilidade de uma nova tecnologia que permita rastreá-los no passado.

As datas dos concentrais no livro do Dawkins são calculadas por registros fósseis e por dados moleculares. E a história "acaba" sendo coerente com a distribuição atual das espécies e também com a deriva continental pelos tempos. O autor não fez as pesquisas ele mesmo, mas ele se baseou em muitos estudos para reunir os dados no livro, citados no fim do livro (não cheguei a conferir, mas confio que ele não burlou nem falsificou referências ou dados). Não alego originalidade; provavelmente ele não foi o primeiro a juntar as pesquisas e deduzir essa história. Na verdade é só a ascendência do homem, para trás, encontrando todos os seres vivos pelo caminho, afinal é tudo parente. Note que nessa caminhada ele nunca encontra os seres atuais; ele encontra concestrais conforme vai tomando o genitor do genitor do genitor do... do genitor.

Por dados moleculares quero (ele quis) dizer estudar o DNA de dois seres vivos (em geral atuais ou ao menos recentes [como o dodô], visto que o DNA não sobrevive por muitos anos) e olhar para as diferenças entre os códigos (acho que tem uma palavra específica para a tal sequência de nucleotídeos, mas não me recordo) e com isso concluir a provável separação entre os dois indivíduos.

Por exemplo, pegando um humano e um orangotango (não estou certo se basta um ou se deve ser feita uma média entre vários indivíduos da mesma espécie), as diferenças entre o DNA aponta para uma separação de (aproximadamente) 14 milhões de anos. Ou seja, há 14 milhões de anos existiram dois irmãos (e não necessariamente só um par) tais que um é ancestral de todos os orangotangos e o outro é ancestral de todos os humanos (e chimpanzés, gorilas e bonobos, se a memória não falha). O pai/mãe deles (basta terem um em comum para serem irmãos, digamos) é o (um, na verdade) concestral dos humanos e dos orangotangos.

3) A distribuição atual dos seres vivos é coerente com a "evolução clássica"(isto é, sem dilúvio...). Ou pelo menos há uma história longa como a descrita no livro acima (mas que vai perdendo nitidez à medida que há menos fósseis).

Se o dilúvio ocorreu quando já havia o homo sapiens (ou alguém muito parecido!) e um deles salvou um casal de cada espécie, precisamos mostrar como coletou cada ser vivo e depois como devolveu. Como buscar o canguru, e depois como largá-lo de volta lá na oceania? Isso porque os marsupiais se separaram relativamente cedo do resto dos mamíferos (via "dados moleculares").

Há quem fale (pra mim fanáticos religiosos, pra eles pessoas puramente racionais e sem preconceito) que na época do tio ainda "estávamos" na Pangea. Isso facilita quanto ao problema de salvar e de devolver o canguru. Mas daí os continentes entraram num racha, desde então, para se colocarem do jeito atual? Não estou a fim de calcular a velocidade, mas é aproximadamente 200.000.000/10.000 =  20.000 vezes mais rápida que a que parece. Esta parte, mais do que todas, me faz pensar num sacrifício e esforço enormes para encaixar a história da Terra na história daquele livro (não é o Silmarillion, sorry folks).

Se ocorreu antes, é preciso explicar porque sobreviveu uma pequena amostra de cada espécie. O mais normal é que espécies inteiras se extinguissem, dado que dois indivíduos da mesma espécie são mais parecidos que dois indivíduos quaisquer. Como tais seres sobreviveram?

Aqui se nota uma dificuldade para mim. Como combater o indefinido? Dilúvio de água global, tá, mas quando aconteceu, quanto durou, como alguns animais se salvaram e outros não. Assim sou eu que tenho que correr atrás para negar todas as possibilidades! (Até procurei por "teoria do zoneamento ecológico" na internet, mas não consegui achar o tema desligado da religião...)

4) A geologia "tradicional" já explica seres marinhos encontrados na altitude sem precisar supor que a água chegou até lá. Uma explicação razoável é que aquelas terras que eram mais baixas.

5) Segundo a Wikipedia, os Alpes se formaram no oligoceno e no mioceno (vai ver está incerto) e os Andes no Terciário (menos específico ainda); o Himalaia no Cretáceo Superior. De qualquer maneira, se o mar  não é mais profundo que 12km, e, com uma consulta rápida na internet, tem em média 4km de profundidade. Se a água subiu tão alto, tipo uns 8km, precisava existir água em quantidade muito maior, quase o triplo, considerando que a maior parte da área do planeta está em altitudes baixas.

Se foi ainda antes (tá vendo como é ruim combater um cenário que está muito mal definido?), então as observações sobre as flutuações de corpos deixam de fazer tanto sentido...

6) Se houve tempo para ir fugindo enquanto as águas iam subindo, quem disse que os mamíferos teriam mais sucesso? Não é claro para mim. Mesmo que tivessem, provavelmente só haveria espécimes mamíferos restantes. A menos, claro, do tio bondoso...

7) Se cada espécie descende de um casal e todos esses casais viveram mais ou menos ao mesmo tempo, isso deveria ficar claro no DNA. O DNA dos seres vivos atuais nos sugere que foi assim?

8) Intermediários? A menos que se tenha um registro completo, o que demandaria milhões de fósseis muito bem catalogados somente para a espécie humana, continuará havendo lacunas no registro fóssil.

05 agosto, 2011

de novo sobre a exceção confirmar a regra

Uma das maiores bobagens que já li (e que continuo lendo) é sobre a exceção confirmar a regra.
Então quer dizer que se duas pessoas fazem duas asserções ou previsões diferentes e opostas ("todo sábado chove" e "em nenhum sábado chove"), não importa o que aconteça. Uma pode dizer que a exceção confirma a sua regra; a outra vê o acontecimento como a prova dos nove da sua previsão. As asserções estariam desvinculadas da realidade, pois no pensamento de cada um, a sua asserção estaria sendo comprovada e verificada a cada sábado, não importando o que acontecesse.
Provar mesmo uma asserção é difícil (uma teoria mais ainda; teorias são agrupamentos organizados de asserções). Mas se pelo menos ela não for contradita, principalmente quando se fazem experimentos com esse propósito, estamos seguindo bem.

26 julho, 2011

por que não gosto tanto de bebês

Muitas pessoas babam e se derretem pelos bebês. Adoram ver as reações deles ao tchuque-tchuque. Eu não gosto muito disso. Considero que a maior riqueza de uma pessoa está não nas suas sensações primárias, mas sim nos seus pensamentos que vem depois de reflexões sobre muitas experiências. Não é fantástico pra mim ver como os bebês sentem seus pezinhos. Mas realmente desperta meu interesse quando, depois de relativamente crescidos, e depois de aptos a falar sobre tais assuntos com alguma maturidade (talvez só na adolescência), posso ouvir o que uma pessoa pensa, poder ver outra mente em funcionamento! Isso pode ser ainda mais gratificante se pude influenciar no seu desenvolvimento.

25 julho, 2011

evidências e ausências

Não ressaltarei a importância, nem a certeza, nem a estranheza. Ressaltarei que ausência de evidência significar evidência de ausência(Carl Sagan; não confundir com Sangan) é uma dúvida definidíssima. Se a acho a questão central do universo (e tudo o mais), não, embora reconheça que ela é importante no que conhecemos e consideramos o conhecimento e sua validação. Se a questão está solucionada na minha cabeça, não! Seguindo este texto, ótimo em muitos aspectos, não sugerirei ao leitor que aproveite como quiser.

(No post anterior, ridicularizo (para aqueles que ainda não perveberam a ironia daquele...) algo parecido com a ideia de ausência de evidência ser evidência de ausência. Devo dizer por que a analogia não é perfeita. Os fósseis (e os vídeos e os perfis do Facebook) dos intermediários não seriam exatamente uma evidência da evolução, mas sim uma evidência da existência desses intermediários, e não do processo através do qual os seres vivos se modificam com o tempo... A diferença é bem delicada, mas na minha opinião de hoje existe.)

Imagino como deva ser um modelo do conhecimento que contenha certa álgebra (outra palavra seria estrutura). Se tenho uma afirmação (que possa ser admissível no modelo) e existe uma medida de valor (talvez uma probabilidade de veracidade), deveria esperar (essa seria a estrutura ou álgebra) que esse valor se alterasse conforme os fatos que estivessem disponíveis. Se houvesse tal fato corroborando a afirmação, seu valor (ou probabilidade) de verdade aumentaria, e caso se soubessem falsas tais evidências, seu valor (ou probabilidade diminuiria). Na ausência de tais evidências, o que dizer? Provavelmente diminuiria o valor da verdade pouco a pouco (por exemplo como alguma curva decrescente que nunca atingisse a 0, no caso da probabilidade) conforme as evidências não fossem encontradas (mas saltando para um valor maior quando e se essas evidências fossem encontradas).

Mas isso que falei só faz sentido supondo que há um modelo coerente (na verdade funcional, e com essa exigência estamos implicitamente num modelo, com outras suposições) que obedeça às regras acima (que me parecem razoáveis, mas intrinsecamente não são razoáveis, creio). Daí faria sentido falar em ausência de evidência implicar uma evidência de ausência, abaixando lentamente nossa crença na afirmação à medida em que as evidências que a fariam aumentar seu valor não aparecessem.

Mas também não é necessário que a ausência da evidência altere o valor da crença. Afinal, podemos dar nomes às nossas álgebras ou estruturas conforme o que elas satisfazem (um grupo, uma álgebra graduada, um anel comutativo com unidade), e cada jeito seria uma definição do que gostaríamos que modelasse o nosso conhecimento. O que é mais razoável é, para mim, uma decisão mais humana e pessoal que intrínseca. Não sei dizer se há algo que realmente se encaixa num tipo (ausência da ausência leva à diminuição do valor da afirmação com o tempo) ou no outro (somente evidências contrárias abaixariam o valor).

Note que quando pensamos na estrutura em que a falta de evidência faz o valor decrescer lentamente com o tempo, já estamos pensando que... existe um tempo! Com o que conheço de Física tremo com a força dessa hipótese.

Outra ideia legal, tergiversando, é a ideia de Kant sobre o tempo (ter lido O Mundo de Sofia há pouco tempo está em fazendo bem). Ele diz que percebemos as coisas através de filtros, que tudo que percebemos ocorre como eventos no tempo e no espaço (e também que associamos causalidade a fatos sucessivos). A relação me parece óbvia: a pergunta se o tempo é algo tão intrínseco no mundo ou se só faz parte da nossa visão e como acomodamos as coisas. Mesmo que seja somente pessoal (talvez não faça sentido dizer que é ou não é, no modelo dos modelos), ainda podemos pensar em decrescimento temporal. Mas tudo isso nos põe a pensar e a duvidar de estruturas universais e naturais.

A conclusão provisória (como todas, acredito por enquanto): quando dizemos que ausência de evidência é ou não é evidência de ausência, já estamos pensando (ou deveríamos estar pensando) numa estrutura em que isso faça sentido. Impus condições que me pareceram razoáveis para tal estrutura de modo que os conceitos fizessem sentido. Pareceu-me relativamente simples, mas foi só um jeito de formalizar os conceitos (ausência de evidência e evidência de ausência), e não necessariamente o jeito canônico ou natural. Se o conhecimento funciona numa das duas estruturas sugeridas não podemos saber com certeza, mas creio que podemos usar qualquer uma das duas estruturas para obtermos resultados úteis e práticos mesmo que seja só na duração da nossa vida. E isso também é um modelo ou estrutura de pensamento. Se algo puder ser dito sobre a validade da afirmação de Carl Sagan, é: depende do contexto.

Fugirei do assunto agora para ressaltar outro uso de uma ideia. O argumento ontológico para a existência de deus nos pede para imaginar um ser perfeito,o melhor de todos os seres. O argumento ontológico segue dizendo que tal ser perfeito existe, pois um ser perfeito existente é melhor que um ser perfeito inexistente, o qual portanto não seria perfeito... e se nomeia deus como tal ser perfeito (esta é a parte mais razoável... o maior problema, já vou adiantando, é jogar para esse deus todas as propriedades que os humanos acreditam que ele tem).

Um motivo para o argumento ser furado é: por que podemos comparar coisas dizendo se são melhores ou piores que outras? Isso tem um termo definido em Matemática (conjunto totalmente ordenado). Por que o conjunto de todas as coisas pode ser totalmente ordenado?

Na verdade, existe uma coisa que se chama Axioma da Escolha, que diz que todo conjunto pode ser bem ordenado (como consequência totalmente ordenado, mas são coisas distintas). Mas o ponto chave é: essa boa ordenação satisfaz o que queremos? Queremos que haja um supremo (o perfeito é o ser que é melhor do que todos os outros), mas não só isso. Há outro ponto crucial: o que tal ordem tem a ver com as medidas humanas do que é bom ou ruim? Esse na verdade é o ponto mais forte e significativo. Sem ele, mesmo que se considere o Axioma da Escolha e que existe tal supremo, deus, o ser perfeito, pode ser qualquer coisa, como uma toalha artesanal norueguesa... Pegando outro exemplo da Matemática, os números complexos têm uma ordem total (a lexicográfica, por exemplo). Mas quando exigimos que uma ordem nos complexos satisfaça condições que parecem razoáveis (tipo produto de positivos ser positivo, aqui supondo a existência de um zero e de um produto, e portanto um anel pelo menos), prova-se que não existe tal ordem!

24 julho, 2011

O argumento derradeiro que vai derrubar o evolucionismo...

Uma suposta evidência contra o evolucionismo são as lacunas no registro fóssil. Isso que dizer que não há fósseis de todos os intermediários (entre duas espécies, deveria haver uma sequência que vai ao passado e retorna ao presente por relações de pais&mães/filhos).

Bem, se isso é um sinal de que esses intermediários não existem, há sinais bem mais fortes. Por exemplo, o fato de não haver fotos dos intermediários também concorre contra a existência deles. Outro fato, mais veemente ainda, é a inexistência de vídeos onde tais intermediários aparecem! Tampouco há intermediários no zoológico.

Sendo assim, é impossível que os intermediários existam! De fato, isso quer dizer que a evolução é falsa e portanto (obviamente, ou preciso explicar o porquê?) Deus criou tudo, é o senhor e nos ama.

(PS: Esse Deus é o personagem do livro Bíblia, vários autores.)

09 julho, 2011

definindo conjuntos

Lembrei de algo que pode ser útil. Sobre os jeitos de definir conjuntos. Podemos tanto dizer que propriedades os elementos tem (claro, seguindo ZFC, isso só funciona se estivermos restringindo a um conjunto, e não pedir por todos com aquela propriedade. Se você não entendeu, pense em {x|p(x)} e {x em A|p(x)}. Só o segundo é válido), como dizer quem são seus elementos.

Digo que pode ser útil porque é falso que dada uma ocorrência ou uma regra ela deva se aplicar necessariamente sobre um aspecto do mundo real. Dito de outra forma, nem toda analogia é verdadeira. (Analogias deveriam ser usadas para explicar... não para justificar.)

Voltando, eu posso para explicar um conceito, tanto exprimi-lo em outras palavras como citar exemplos. Com isso fico mais livre e respiro aliviado.

Mas não vamos ser relaxados e displicentes. Leitor: quer dar uma pausa na leitura e descobrir sozinho o que vou dizer?

O problema no que falei é que para definir o conceito pelo segundo método eu precisaria citar todos os elementos dele. Ou seja, não funciona.

Até pode funcionar para casos finitos (por exemplo, os titulares do próximo jogo da seleção brasileira de futebol, no sentido usual de tempo no nosso ou ao menos meu modelo...), mas aí é bobo demais. Claro que eu só posso falar enumeravelmente e por isso supostamente poderia compreender todos os elementos usando algo equivalente aos pontinhos em {1,2,3,4...}. Infelizmente, acho que nesse caso recaímos no caso anterior (se dizer a propriedade dos elementos), e acho que não se pode avançar.

Mas boa tentativa, um abraço pra mãe, beijo pras prima!

08 julho, 2011

delícias oníricas

Hoje tive um sonho especial.

Primeiro, entre outras coisas, sonhei que eu participava de um de duas equipes em uma espécie de competição musical. Sei que havia atrito entre as equipes (os apertos de mão não eram cordiais). Acho que as duas tocavam ao mesmo tempo e depois uma plateia escolhia a vencedora. Sei que entrei bem em cima da hora no círculo (cada equipe ficava num círculo de oito ou dez integrantes, cada um com um instrumento), e que não lembrava qual era o meu. Aí meio que me apontaram a cadeira vazia do círculo, onde estava meu instrumento, uma espécie de bafômetro com snorkel (ele devia ser ligado para funcionar, tinha um botão de abafador e devia ser soprado como se fosse um bafômetro). O curioso é que eu, ao ver o instrumento e examiná-lo, eu soube que nunca havia visto um daqueles antes (e portanto não sabia tirar som do instrumento) e que aquilo era tão onírico que estava acontecendo num sonho!

Saber que se está sonhando já é legal. Daí o que tentei fazer foi anotar mentalmente o nome do instrumento (que no sonho eu sabia) e escrevê-lo assim que pudesse para não perder a informação. Comentei com uma pessoa (via MSN) sobre o sonho, citando praticamente toda a postagem até aqui, mais o nome do instrumento. Além de escrever ajudar a gravar, minhas conversas ficam salvas, de modo que eu não perderia a informação. Tudo muito bom.

Só depois que eu acordei. Em especial, não sei diz er o nome do bendito instrumento (mas eram duas palavras).

Resumindo (ou esclarecendo), num sonho eu sei que estou sonhando, no outro sonho penso que estou acordado e tento escrever sobre o sonho anterior para garantir que não vou esquece-lo.

Com esse texto, gravo estes meus sonhos peculiares no meu blog. Mas será que ainda não vou acordar mais uma vez?

Apesar de não poder responder essa pergunta, penso que o jeito certo de agir é como se não houvesse mais um despertar de realidades. Acho muito mais produtivo esse método (de modelos, que são mais ou menos adequados, mas são só modelos do mundo) do que precisar ter certeza sobre as caracterizações das coisas do mundo.

06 julho, 2011

apologia da religião

Sou a favor da religião, mas só para fins medicinais. Por exemplo, ministrar Jesus a doentes terminais para que sofram um pouco menos e possam ter um pouco de esperança numa outra vida (já que a atual...) Ou usar a religião como redução de danos para pacientes viciados em drogas, da mesma forma que se oferece (embora a eficácia não esteja comprovada) maconha a dependentes de crack para que substituam um vício por um menos nocivo.

03 julho, 2011

as síndromes às quais os blogueiros estão sujeitos

A primeira delas (a ser listada, não que ocorra primeiro) é a compulsão em postar. (A sensação é de que) Tudo tem que ser postado, escrito, documentado, tudo que acontece (no cérebro, no ambiente de trabalho, nos jornais) deve ser comentado (geralmente primeiramente) no blog,. Acho que o grupo de maior risco é dos que usam Twitter, e um pouco algumas redes sociais. Mas blogueiros tradicionais também podem ser afetados.

Já passei por essa síndrome. No meu caso, cada pensamento originalzinho que eu tinha devia ser anotado (mentalmente; posteriormente fisicamente) para ser posto no meu blog quando eu usasse o computador. Não considero tão grave; quando olho os arquivos do blog, encontro várias ideias interessantes (e algumas que são indecifráveis agora), e além disso treinava minha argumentação (ou deteriorava, por não haver exigências oficiais e escrever sempre para as mesmas pessoas, em vez de para todos). Se foi bom ou ruim pra mim, não sei julgar. Mas acho melhor (quando as postagens são pensamentinhos; passeie por meus blogs para ter centenas de exemplos) que o jeito "seqüestre-me" de postar, ou aquele em que se copiam imagens ou textos bonitinhos da internet. (Claro, isso porque, como recém escrevi, gosto do meu estilo de postagem.)

Outra síndrome, que pode vir um pouco depois da anterior, é a síndrome da referência. Ela acontece quando você escreve bastante coisas no blog (ou pelo menos já escreveu), e em parte dos seus diálogos você dá a referência do blog em vez de argumentar/relatar/comentar novamente o assunto/ideia/piada.

Já "sofri" essa síndrome. O blog era a minha obra de referência. Quando queria comentar algo com alguém, acabava escrevendo primeiro no blog, e no fim recomendava a leitura em vez de reconstruir o que eu queria comunicar.

Da terceira síndrome fui curado (espontaneamente) hoje. É aquela síndrome em que você esquece que o blog existe...

Meus blogs. Ou: A história do pensamento (do Eduardo Fischer)

Mantenho blogs há praticamente sete anos. Claro que dá um pouco de vergonha lembrar do primeiro, mas já faz uns cinco anos que faço blogs do jeito que faço agora. É o meu jeito certo, como eu gosto. Evitando links ou imagens; publico ideias que seriam originais caso eu fosse o único pensante existente e tampouco houvesse livros de filosofia. Aliás, não sei se já confessei, mas é gratificante quando algo que pensei (sobre mente humana, comportamente, ontologia) tenha sido algo proposto ou debatido por algum filósofo de verdade.

Uma coisa que me lembro é que quando criança (não saberia precisar a idade; minha estimativa é de algo tipo aos seis anos) é que eu pensava que tudo no mundo era voltado a mim. Pensava que cada reação das pessoas era exclusivamente a mim, que as coisas aconteciam e a importância delas era a importância em me afetar. Na verdade não pensava isso todo o tempo; sei que transitava entre essa visão egocêntrica de mundo e "heterocêntrica" (minha palavra, visão de mundo em que cada pessoa é uma mente, e que a natureza se comporta indepentemente delas), sem saber o que realmente acontecia. Será que estavam todos armando pra mim e eram minhas emoções que importavam? Na minha mente infantil, era uma dúvida pertinente. Depois predominou a visão heterocêntrica com um deus existente (mas não que eu pensasse nele toda hora, so acreditava que existisse). Aos catorze anos me tornei ateísta sentado na cadeira que sento para fazer as refeições na casa dos meus pais (era outono, minha mãe estava presente e havia garotos andando de carrinho de rolimã na minha rua). Passei por uma fase que poderia ser considerada meio fascista. Digamos que eu achava uma ideia razoável jogar bombas nas favelas para diminuir a criminalidade e aumentar o padrão de vida médio das pessoas. Está nos meus planos (mas não na prancheta) publicar o conteúdo das minhas redações daquela época; mundaréu de pérolas. Depois, posso dizer (com certo orgulho) que meu desenvolvimento mental está bem documentado no blog. Inclusive, tanto algumas palavras minhas agora poderiam ajudar alguém a interpretar meu espírito em épocas passadas do blog (e não só esse) como ler postagens antigas dá mais clareza (como se fossem documentos históricos) para que eu mesmo entenda aqueles momentos.

08 junho, 2011

"argumento" chato

Tem uma coisa que eu simplesmente sinto dentro de mim, uma coisa bem íntima. Ela só tem uma explicação possível: deve ser um ser infinitamente bom, infinitamente sábio e infinitamente poderoso que criou o universo, que criou as pessoas, tendo matado ou mandado matar muitas delas depois, que fez aliança com algumas, que mandou seu filho (que era ele próprio) à Terra para morrer por todos os erros dos humanos inclusive os ainda não cometidos e que pode se comunicar telepaticamente com cada pessoa viva. Ainda por cima, ele me ama.

30 maio, 2011

os prazeres aliviam ou mascaram as dificuldades?

Uma dúvida me perturba demais. Tenho grandes problemas a resolver e também algumas fontes de prazer, tranquilidade e relaxamento na vida. Não sei se esses momentos felizes servem para aliviar a tensão e evitar um estado psicótico ou se na verdade criam fugas temporárias que somente mascaram a dificuldade e a centralidade dos problemas.

Não tenho a resposta, mas sei que mesmo uma questão pode ser muito instrutiva e elucidativa. Por isso, posto.

13 maio, 2011

nossas bandas

Acho que não vivemos bons tempos de música política. Sinto falta de um Legião Urbana ou mesmo de um Chico Buarque na época da ditadura militar (na verdade só peguei os dois depois da onda passar).

Não sei se é porque estou por fora do que é bom, se não estou ligado no que está rolando. Me parece que hoje quem faz letra de protesto no Brasil é rapper (ou toca uma gatorra). Os músicos dos outros estilos musicais somente estão produzindo entretenimento. Será que não há o que falar? Ou estão acomodados demais pra se preocupar com os problemas do país e do mundo?

Arrisco uma hipótese. Hoje é tão fácil produzir conteúdo que nós jovens nos contentamos com nossos blogzinhos.

♬ E vamos celebrar a estupidez de quem escreveu esta escrita. ♬

nossa oposição

Quando eu era criança era super comum ver pessoas criticando o governo na tevê, e elas chamavam a atenção pra coisas que eu passava a entender como ruins (o exemplo clássico: as privatizações).

Isso não aconteceu mais no governo petista (e certamente não foi porque eu deixei de assistir tevê). Eu me pergunto onde estão os opositores (agora, outros) para apontar o que há de errado no governo (agora, outro). Ficam calados, deixando o PT se deliciar com o poder (e o tesouro). Será que desistiram de falar na esperança de obterem migalhas, ou são simplesmente preguiçosos e covardes?

E certamente não faltaria tema. Como exemplos, o desabamento de um túnel (obra do tal PAC; como está a fiscalização?), a inflação em alta, o aumento do preço da energia de Itaipu excendente comprada do Paraguai (vamos pagar o triplo...), obras para Copa atrasadíssimas (e a solução que o governo propõe é enfraquecer o controle das licitações, permitindo muito mais roubalheira), situação caótica dos aeroportos, e muitos outros problemas (incluindo os quase perpétuos do que é fundamental: educação). Imagine se fosse o PT na oposição, a gritaria que estaria se fazendo! Mas não. Não ouço nada. Só grilos.

07 maio, 2011

desculpando-se pelas coisas certas

Tenho uma certa fama (ou melhor, sou e simplesmente transparece) de ser um tanto sincero ou indelicado (dependendo a ocasião). Já comecei muitas frases com "Desculpe a sinceridade, mas...".

Agora acho que não devo mais começar frases assim. Nunca se deve desculpar pela sinceridade! Pode-se sim pedir desculpas (claro, mais como educação que como real penitência) quando uma informação não foi bem dita, quando não se sabe, ou se prefere não falar...

A partir de hoje, minhas frases serão "Desculpa estar fugindo da pergunta, mas..." e "Não precisa agradecer a sinceridade".

25 abril, 2011

desarmamento

Outro tópico que renasceu agora é a questão do desarmamento. Isso graças ao nosso amigo sofredor de bullying (segundo Raul Carrion, eu deveria escrever valentonice) Wellington. O fato de ele ter usado armas ilegais (e achei curioso que os vendedores foram presos; isso poderia ser feito sempre?) não parece ter muita influência.

Tenho uma opinião sobre o desarmamento de civis, e tenho uma opinião sobre o plebiscito, ideia do grandissíssimo José Sarnento.

Vamos começar pela mais fácil. Acho ridículo gastarmos mais dinheiro para "ouvir o povo" (na verdade eles só vão apertar uns botões). Só para perder dinheiro e tempo, e desviar a atenção da imprensa (claro, há no governo petista muitos que acham que isso de órgão regulador para apontar falhas só serve para atrapalhar os processos). Houve um referendo em 2005 e o "Não" ganhou (ou seja, dissemos não à proibição da venda de armas). Naquela época eu teria votado "Sim". Hoje, se realmente houver esse maldito referendo, faço questão de votar "Não".

Agora a mais difícil, sobre o desarmamento em si ser uma coisa boa ou não. Acho que se pode fazer boas defesas dos dois lados e ser coerente. Ou quase. Quer dizer, não acredito muito nos números comparativos entre países; há muitos outros fatores que não são levados em conta que o que é uma boa escolha para um país pode se revelar péssima pra outra. Não gosto muito de frases envolvendo a expressão mágica "cidadão de bem", sempre me lembra algo como "voz do povo" ou "ações afirmativas" (ou seja, expressão mágica usada para manobras políticas). Até acredito que um bandido terá menos medo de invadir uma casa se souber que lá não há armas legalmente adquiridas (se bem que esse não é o crime mais responsável pela violência no Brasil, vamos combinar).

Os dois argumentos mais fortes sobre a discussão pra mim são os seguintes. O primeiro é sobre os disparos "emocionais" (frutos de brigas mesquinhas, às vezes passionais, e que podem partir de e atingir qualquer cidadão, por mais de bem que seja) e aqueles "sem querer" (quando o bebê atira com a espingarda). Acho que os dois são riscos eminentes quando se tem uma arma em casa. Como armas geralmente só servem para atirar e mirar em pessoas (ignore o caso se você for um caçador, embora ser um caçador não seja algo que me deixaria muito orgulhoso [a menos que seja caças javalis com uma faca]), acho que é um risco muito grande quando pensamos em preservar algumas vidas. (É um risco mais doméstico; a arma não oferece tanto perigo à sociedade quanto oferece ao dono e seus amigos/desafetos. Mesmo assim, para mim seria risco o suficiente. Mas é só minha opinião, não um laudo técnico.) As pessoas sempre subestimam esse risco para si mesmas, pensam que nunca acontece com elas, acham que são sempre imunes a erros. Por isso falam ao celular (por exemplo) enquanto dirigem, achando que são pessoas muito inteligentes para se distraírem. É um discurso coerente até acontecer a primeira merda (e o pior é que a gente sempre consegue inventar motivos idiotas pra tirarmos a culpa de nossos ombros).

O segundo argumento é contra a proibição. Fala da interferência do estado (errei uma questão no vestibular sobre quando é 'Estado' e quando é 'estado') na vida das pessoas. Isso é delicado. Pela minha noção, proibir armas pode ser aceitável assim como é proibido ter urânio enriquecido. Contudo, a Constituição (engraçado como agora essa palavra sempre me lembra D&D) diz que a pessoa tem o direito de se defender, e que o estado deve oferecer segurança (como se fosse a única coisa que faltasse...). Pode-se argumentar que retirar a arma da pessoa fere esse direito. Eu nunca fui muito "legalista" (observar a lei acima da moral), mas estou me tornando um pouco, achando que por mais que eu considere intimamente uma ideia positiva ela deve estar amparada na lei. (Vide as ações afirmativas...)

Minha conclusão (ignorando que já houve um referendo): não cabe a mim decidir o que é melhor. Essa é uma decisão do governo, que precisa sim consultar a sociedade mas através de discussões públicas e pareceres técnicos. Não acho que cada pessoa brasileira deva ter um voto nessa decisão. Se me obrigassem a optar, votaria pelo sim, mas com o nariz de palhaço de quem acredita que essa medida será efetiva para diminuir a violência. No máximo, vai proteger de um acidente a vida de quem possui uma arma legal.

(Amigos, vocês não imaginam como seguro os palavrões sobre o ilustríssimo presidente do Senado.)

A cegueira da mídia no caso da tragédia do Rio

Acho curioso a capacidade da mídia em geral para ignorar alguns assuntos, tratando-os levianamente ou maquiando-os. Por exemplo, o caso do assassino Wellington, da escola do Realengo. Num dos vídeos que fez, fala de "covardes, cruéis" que agrediam seus "irmãos". Logo se ligaram as palavras ao bullying. Faria sentido, mas pra ver como é fácil usar um assunto de ocasião pra ignorar uma parte importante: ele fala de certas pessoas que poderiam ser seus mentores, ele se converteu ao islamismo, tinha barba, quase todas suas vítimas eram meninas... Quer dizer, não posso afirmar, mas acho que devemos (não é nem "deveríamos", é "devemos" mesmo) investigar o que de fato ocorreu do que atribuir simplesmente o massacre à vida escolar do rapaz e ignorar o resto.

Ele não era tão maluco assim. Era tão maluco quanto várias pessoas são (como Jesus e Sócrates seriam, pelo que sei deles), o que facilita sua cooptação para grupos extremistas (em muitos sentidos). Podendo direcionar a direção dos objetivos de alguém que é obstinado e tem bastante força de vontade parar saber esperar até cumprir sua missão, podemos ter voluntários batalhadores de ONGs (esquecendo aquelas que agora são patrocinadas pelo governo) ou potenciais homens-bomba. Nesse quesito, uma ótima força propulsora é a religião, cujo uso pode ser tanto para amar fiéis ou matar infiéis.

Ainda não li, mas saiu uma reportagem na Veja sobre o terrorismo ter fincado raízes no Brasil. Sei também que o Brasil não tem lei específica sobre terrorismo. Mas o que mais me preocupa é o fato de a imprensa ser a cega que não quer nem tentar ver, preferindo simplificar, dizendo que foi bullying e dando dicas a pais e educadores. Claro que pode até ser, mas acho que os pais das crianças mortas merecem saber o que motivou o assassino. (Isso sem querer ser sentimental, porque todo mundo merece saber, ou ao menos eu estou realmente curioso!)

meia passagem estudantil no domingo

Não sei muito bem qual a justificativa para estudantes gozarem do direito da meia passagem em Porto Alegre. Imagino que... bem, não sei. Talvez isso ocorreu por pressão de grupos estudantis (sempre auxiliado por legisladores alinhados à "causa") e agora é retirar esse benefício causaria muita quebradeira. (Também não sei porque os idosos viajam gratuitamente. É uma forma de compensação pela aposentadoria que é pequena?)

É sempre gostoso ter um benefício. Ninguém nega que é uma maravilha pagar só metade do ônibus ou poder entrar antes das pessoas que chegaram antes na fila. Mas geralmente isso tem um custo, e são os outros que pagam.

Aqui em Porto Alegre os estudantes podem andar de ônibus pagando meia passagem de segunda a sábado. Supostamente, para auxiliá-los na busca do conhecimento. Não vejo por que teria que ser assim em domingo também, quando suas atividades provavelmente serão outras.

16 abril, 2011

por que a "lógica" e não o amor?

Esta é para as pessoas que acham um absurdo que tudo na vida têm que seguir regras lógicas (geralmente depois de receberem um argumento decente contra seu ponto de vista, preferindo manter-se isoladas racionalmente).

Eu afirmo que faz sentido basearmos nossas decisões na "lógica" e não no amor. Porque "lógica" "funciona". Em "lógica", há leis que funcionam, e seguindo elas (e muito outras coisas, como observação) podemos tirar conclusões testáveis sobre o universo que em geral funcionam (por exemplo um microônibus). No contexto racional, da "lógica", se p implica q então não q implica não p. Mas no amor você pode amar sem ser amado...

(Usei aspas em 'lógica'. Não quero explicar o motivo.)

a verdade é estatística

Penso (ou só acho? Que crise...) que a verdade é estatística. Isso quer dizer que relações causais e correlações são estatísticas.

Cigarro causa câncer de pulmão? Certamente há pessoas um tanto longevas ainda fumantes, e que possivelmente morrerão por outro motivo (câncer de esôfago?). Relatos não nos dizem muita coisa (mas alguns entretem...). Mas há uma correlação estatística (e daí concluir a implicação é outro passo, mas acredito que não são as pessoas que têm câncer que começam a fumar), e é isso que quer dizer a frase. Viu, nossa frase tem sentido.

Outro exemplo, do qual já tratei num post próprio. Oração cura? Bem, você pode contar a história que quiser sobre pessoas para as quais foram dirigidas orações e que foram curadas. Mas se quisermos saber a verdade (tentar obter um verdadeiro conhecimento mais do que fatos pessoais), teríamos que medir (vou ser bem didático, peço desculpas a alguns):
-as pessoas que recebem orações e se curam;
-as pessoas que não recebem orações e não se curam;
-as pessoas que recebem orações e não se curam;
-as pessoas que não recebem orações e se curam.

Claro que depois deveríamos medir o quanto as pessoas se curam, qual a influência da oração, se a quantidade de oração têm influência. É assim que são feitos os remédios, e é por isso que eles funcionam muito bem. Aliás, vamos recordar que se hoje as pessoas vivem muito mais (setenta em vez de trinta anos), provavelmente não é por estarem mais espirituais! É por causa dos antibióticos, vacinas, melhores tratamentos sanitários e outros fatores mundanos. (Nossa, que argumento bom. Se bobear é novo.)

Lembre-se existem pessoas mortas (talvez ficasse mais claro se eu dissesse que pessoas mortas não existem). Quer dizer, se das pessoas com tal comportamento poucas sobrevivem não devemos tomar a ausência do relato como ausência da experiência. Pense (um exemplo) em quem diz não tomar cuidado no trânsito e ainda assim estar vivo. Certamente não é pelo trânsito não apresentar riscos, mas sim por não levarmos em conta muitos acidentados e atropelados.

desfazendo o texto do achismo

Escrevi sobre a opinião no último post. Percebi que isso desmerecia todo o "trabalho" do blog (tanto que pus aspas), que entrou na categoria da masturbação mental (e digital, porque me dá muito prazer digitar corretamente sem olhar para o teclado). Não sei mais com que moral vou expressar minha opinião.

O que faço? Vou me permitir o direito de escrever, tomando o cuidado (como acho que sempre tomo) de não confundir verdade com opinião (e de suspeitar do que seja verdade).

Voltarei ao trabalho, agora sem aspas, enquanto continuo pensando no assunto.

15 abril, 2011

o achismo

A maioria das pessoas acha e só acha.

Por exemplo, homoafetivos (porque eles também são capazes de amar as pessoas com quem transam) assim o são por causa da genética ou por causa do ambiente? Você pode achar o que quiser, não importa. Você só está achando. Penso que as perguntas podem ser respondidas (dentro de um modelo, e lálálá explicação sobre ciência), e uma questão como essa é muito mais que uma questão de opinião política ou social.

Outro exemplo, que está em pauta (e faz dias que quero escrever sobre), é sobre a periculosidade das armas de fogo legalizadas nas mãos de civis. Tem quem ache que elas causam acidentes domésticos demais e devem ser proibidas, outros pensam que compensam por deixar potenciais assaltantes inseguros. Eu já achei uma opinião assim. Mas só achei. Nesse caso a verdade é menos universal que a homoafetividade, dependendo da sociedade. Mas também podemos saber de verdade sobre o assunto (além do achismo) com estatísticas não deturpadas (e verificar sua lisura sempre levanta a questão de se a lógica é verdadeira, o quanto da matemática é construção cultural, e assemelhadas). Penso que a verdade é estatística. Num outro post!

Assim, nós achamos, mas alguns achismos poderiam ser resolvidos (ou terem seus graus de certeza aumentados, tudo isso num contexto científico de conhecimento acumulado).

da experiência e dos experientes

Pessoas se dizem mais sábias pelo seu maior tempo de vivência. Argumentam em suas discussões que já teriam passado por mais muita coisa que um ser mais jovem poderia imaginar.

Bem, se o tempo realmente só traz sabedoria, então a pessoa de cinquenta pode ser mais sábia que ela mesma aos vinte anos, e não que qualquer pessoa de vinte anos. Mais do que isso já é extrapolação.

09 abril, 2011

Comentários faceiros e críticos sobre a tragédia no Rio e suas consequências.

Falo sobre o tal rapaz (que se chama Wellington) que matou algumas crianças numa escola do Rio de Janeiro. Na verdade, sinto (como se fosse pelo coração) que um acontecimento assim não é uma tragédia. Tragédia pra mim é um desastre natural (como os desabamentos anuais naquele mesmo estado), ou uma morte em massa como na queda de um avião fora da ilha de Lost (podendo ser por erro humano). O que ocorreu lá talvez pudesse ser melhor denominado chacina. Como dizem meus amigos mais ligados á Física, mas whatever.

Esperando assistir um episódio de Bob Esponja (o qual um amigo meu acreditava fazer mal às crianças por ser deixado no limbo entre masculino e feminino [discordo!]), assisti um pouco da cobertura ao vivo no dia. Descobri que, na visão da jornalista, era surpreendente os pais esperarem ansiosos na rua da escola.

Também soube que na escola havia 17 salas e 2 turnos para 1230 alunos. Isso significa que há em média 35 alunos por turma. Deve ser por isso que cariocas têm dificuldade em lidar com frações (o que fica saliente quando se fala de pizza com alguns). [Claro que a generalização serve a um propósito cômico.]

Comentaram que se tratava de um crime americano (entenda estaduniense, pois americano também sou), que não era a característica do nosso país. Falaram cedo demais. Outro maníaco resolveu brincar de GTA num shopping, suicidando-se em seguida, provavelmente motivado pelo colega Wellington.

O que mais me chamou a atenção no episódio foi a sua carta de despedida. Procure você mesmo na internet, não gosto muito de links. Vale a pena conferir. Na primeira parte, pede biblicamente (não pelo conteúdo, é pelo estilo!) como quer que seu corpo seja tratado após sua morte. Detalhe para sua distinção entre puros e impuros, e para sua crença na volta de Jesus (que então ia perdoá-lo). Repare que ele não é muçulmano, mas sim cristão (não creio que um representante da sua igreja tenha coragem de se manifestar, se é que ele congregava em alguma). Na segunda parte, pede para que sua casa vire um abrigo de animais abandonados. Se fosse um mártir quje tivesse feito um sacrifício em prol de alguma causa, até seria um legado bonito. Detalhíssimo que ele usa um 'da qual' corretamente na carta (mas usa crase antes da palavra 'uma'). (Sempre é bom recordar a fala da Ana Maria Braga, a mais marcante antes da omeleta com a presidenta: "Eu recomendíssimo".)

[Observação: O maníaco do shopping é holandês. Falha minha.]
[Observação: Errei em um segundo ponto: a religião do Wellington. Parece que ele uma ex-testemunha de Jeová convertido ao islamismo. Veja minha fonte.]

07 abril, 2011

sobre um suposto acréscimo da quantidade de crianças talentosas

(Vou falar sobre música para fixar um exemplo, mas poderia ser sobre outra habilidade.)

Parecem pipocar crianças "prodígio" (embora não goste do nome) em música (ou ao menos parece que elas são mais conhecidas, digamos via Youtube), que dominam (ou nem tanto assim)um instrumento com pouco anos de idade.

Há duas explicações que retiram a fantasia da coisa. A primeira é que, com oportunidade, quase toda criança consegue se tornar boa num instrumento bem cedo (lembre-se que se vemos uma criança tocar, não a julgamos com os mesmos critérios com os que julgaríamos um músico profissional). Motivadas pelos pais, elas conseguem isso. Muito bom para elas!

A segunda é que algumas poucas pessoas nascem com um talento natural, e por isso deslancham muito bem e rápido. Só quero chamar atenção para um outro aspecto. Será que cada pouco estamos diante de um novo Mozart, como se apregoa (deixei de assistir programas idiotas de tevê, mas vou assumir que continua-se agindo assim)? Não. Penso que como nascem mais pessoas em um ano atual do que em uma década (ou mesmo duas) da época do Renascimento, é bem mais comum o aparecimento de seres substancialmente acima da média em música.

Por que isso é (ao menos eu acho) importante? Porque é uma explicação bem lógica e reducionista de um fenômeno. Nada como o que é racional!

06 abril, 2011

O mistério da rua 14. Ou por que as letras sempre ficam no mesmo lugar.

Certa vez me questionei o porquê das sílabas usadas como senha nos terminais do Banco do Brasil estarem sempre dispostas no mesmo conjunto quando a senha é requerida mais de uma vez no mesmo acesso. Se você nem reconheceu o que é, talvez nem queira saber a explicação. Então não vou me preocupar muito e vou escrever só pros "dusmeu".

Achei que fosse um embaralhador que ficasse com as "variáveis guardadas" (não lembro o melhor nome pra isso) e que por isso exibia os mesmos resultados. Até achei que isso poderia comprometer a segurança, porque uma pessoa logo atrás, se conseguisse o cartão, poderia saber os lugares onde clicar mesmo sem conhecer as sílabas.

Mas não. Na verdade, esse é um bom método para proteção da senha do cliente. A outra opção daria duas informações a um suposto mau sujeito observante. Ele poderia cruzar as informações de cada vez que a senha fosse requerida para obter a senha (e com oito conjuntos de cinco, ficaria razoavelmente fácil obter com exatidão cruzando dois agrupamentos aleatórios).

Portanto, o que acontece é lógico.

02 abril, 2011

de algumas expressões populares

Não é muito claro o motivo de ter que ir contra aquilo que se pensar estar errado ou trazer males. Quer dizer, o argumento da neutralidade sempre parece não delicioso, mas palatável. Por que se envolver quando podemos simplesmente respeitar e conviver? Esta é uma questão muito séria. E é um problema (no mais exato sentido) para a criação de textos neste blog. Mas deixemos isso para lá; vamos somente respeitar o diferente neste quesito.

Algumas expressões populares me incomodam um pouco. Um pouco são as expressões envolvendo algum ser imaginário, como "O futuro a Deus pertence". (Uso letra maiúscula para me referir ao deus bíblico do meu exemplar da Bílbia a um metro de mim [segundo minha fita métrica], ou seja, um deus diferente de todos deuses das religiões.) Não gosto dessa fantasia que se pretende realidade explicando o presente e "pontuando finalmente" (invenção minha) as conversas e discussões. Como fiquei careca de dizer (meus cabelos voltaram a crescer), penso que as coisas devem ser pensadas, discutidas e tratadas. Mas colocando tais expressões na caixa do "Pois é" e do "É isso aí, gurizada", passam a ser aceitáveis. São só para provocar um silêncio falsamente contemplativo após.

Outras são realmente desnecessárias. Ou como estou sempre brincando (graças ao Zé do Caixão), praticamente desnecessárias. Por exemplo, se tratando de um contraexemplo, diz-se "Essa é a exceção que confirma a regra". Acho isso completamente idiota, e já expliquei isso aqui (sem link, procure você mesmo). Um outro exemplo é "Os incomodados que se retirem". Não sei que infeliz a proferiu iniciaulmente. Quantas oportunidades extras de chateação essa frase já deu aos chatos!! Além disso, fere um pouco as noções de tolerância e convivência. É fácil fazer o que quiser esperando que um eventual incomodado saia.

Qual o problema? O problema é a ignorância momentânea oferecida por esse tipo de frase de efeito; usa-se como se fosse um argumento em si, mas sequer se pensa se realmente ela se aplica na situação. E penso que as conversas e discussões são melhores quando se está realmente querendo dissecar a verdade, e não somente tentar manter seu orgulho metendo frases na cara do companheiro (ou devia se chamar adversário por ser uma discussão? Claro que não!) para rebater os argumentos ou deixá-lo um tempão formalizando algo verdadeiro e óbvio mas chato de explicar (tipo esclarecer porque uma frase de cinco palavras é falha).

10 março, 2011

Minha pequena noção entre a diferença entre conveniente e justo

Vejo eventualmente pessoas elogiando decisões que direta ou indiretamente as beneficiam, chamando-as justas para elas.

Penso que o que é justo é justo ponto, sem objetos ou qualificações. Algo que é justo para mim ("para mim" não significando "na minha opinião", mas sim "para o meu lado") possivelmente é "injusto" (nesse mesmo sentido falho que critico) para outro.

Há situações em que várias pessoas obtém vantagens, ou mesmo todas. Mas em se tratando de jogos de soma zero, aquilo que favorece alguém não é justo para ele. Existe (não necessariamente único) o justo, que é o neutro. Outros modos ou estilos de decisão (fica difícil escolher boas palavras para uma situação geral) são convenientes para alguém, não podendo serem chamados de justos.

Resumo: para um jogo de soma zero, justiça é uma característica absoluta da regra de decisão. Quando não é justa, a regra favorece alguém, sendo conveniente para ele. (Quase uma definição vocabular.)

28 janeiro, 2011

Pequeno texto sobre educação e moral

Busco, apesar dos momentos de raiva em que tento ligar um egoísmo e um nemaísmo completos, a execução de algo que se chamaria de tratamento ideal (às pessoas). (Claro que não é tão pragmático assim. Só tento agir "corretamente". Alguns dos itens já foram discutidos neste blog, como a permissão para questionar, a possibilidade de voltar atrás e o respeito às opiniões divergentes.)

Quando somos confrontados com uma pessoa entusiasmada com algo que você acha ruim (digamos, uma pessoa que quer fazer pedagogia, um recém convertido a uma religião ou alguém que está cada vez mais envolvido com drogas [incluindo funk e pagode]), qual é nossa posição ideal? Fazer os "uhums" enquanto ela conta suas conquistas na área que você acha indesejável ou sugerir alternativas à pessoa, criticando sua escolha (isso pra quem é grosso, como eu). Não sei se a estratégia de clarear tudo funciona, porque as pessoas têm seus pensamentos e acho que não há uma lógica absoluta para decisões. E elas têm direito de tomar suas decisões e de sofrer as consequências, mas você também tem um direito de intervir no mundo (seria a sua decisão). Mas por esses motivos alguém poderia se proclamar com o direito de manipular alguém. Enfim, sem conclusão.
Não sei dizer o que seria mais ético ou coerente, e mesmo o que seria mais educado (talvez alertar fosse e mostrasse maior consideração). Aliás, já devia deixar de procurar essas respostas (e de fato estou pois escrevo cada vez menos) porque ainda não há uma ordem total estabelecida para isso.

Dotar as pessoas de consciência dificulta e enfraquece nossas conclusões. Mas acho que é o melhor modelo. É meio estranho duas pessoas adotarem um pensamento solipsista, e quando falo essa frase já estou no modelo das múltiplas consciências, você tem que reparar.