27 outubro, 2011

sobre postura e crença

Sou profundamente contaminado pela ideia de modelo. Sempre penso que há hipóteses ou princípios e que a vida pode ser vivida através deles, mesmo que eles não sejam gerais, absolutos (e nem validáveis como verdadeiros e falsos). Por exemplo, minha posição de ateu significa que eu vivo como se não houvesse mitos (o Deus do livro Bíblia é, na minha classificação, um mito, assim como o Cthulhu das obras de Lovecraft) ou entes sobrenaturais. É uma questão mais de postura que de crença.

Às vezes o meu palpite sobre o funcionamento do universo é diferente do modo como eu vivo. Só consigo recordar-me de um exemplo. Pelo que eu imagino do espaço-tempo através do modelo simplérrimo que tenho na cabeça (uma variedade - quem disse que o universo deveria ser tão simples e se encaixar num conceito que os seres vivos criaram em cinco bilhões de anos?), mesmo com as imprecisões e incertezas da mecânica quântica, pra mim a única coisa realmente coerente é um universo fatalista (e universo pode ser bem maior, podendo incluir nele mesmo o que outras pessoas chamam de realidades paralelas). Não consigo imaginar que o tudo possa ser diferente do que é.

Na verdade, penso na incerteza de algumas variáveis como um problema (ou melhor, particularidade!) da teoria e das medidas, não como algo intrínseco à matéria/energia. E em última instância não dá para conhecer algo fora da teoria (do modelo, das hipóteses, dos princípios, do jeito de ver e denotar). Fora do modelo, as perguntas não fazem sentido ou pertencem ao que chamo de filosofia. Nada contra filosofia, só acho que suas perguntas não têm uma resposta no sentido que uma pergunta dentro de um modelo teria.

Apesar da minha "aposta" fatalista, não posso (ou seja, não quero) adotar isso como uma moral para mim. Eu vivo como se eu tivesse escolhas. Se tenho ou não, não sei e acho que não dá para saber, mas vivo como se tivesse.

Eu diria que sou cético em relação ao conhecimento. Até a lógica (tradicional) para mim não é intrínseca. Normalmente, parece verdadeiro e óbvio que

A implica B (hipótese 1)
A                (hipótese 2)
B                (conclusão)

Mas... por que? O que quer dizer "implica" a ponto de concluirmos uma coisa da outra? Não acho que possa ser. A menos que sejam por uma definição a mesma coisa. Mas aí usar das definições assim é patinar na glicose. Mas como a lógica (tradicional) está funcionando e parece intelectualmente razoável, mantenho-a como parte do time.

Não acho que essa consciência (isso do meu ponto de vista; outros podem, com suas razões, dizer que é um palpite ruim meu) de que as coisas com que lidamos não têm valores intrínsecos e devem ser avaliadas num contexto em que, por exemplo, se saiba o que é avaliação seja realmente necessário, mas penso que é útil. Não é necessário porque seria muita arrogância dizer que todo mundo devia pensar o mesmo que eu (e isso significa que eu deveria deixar livres [em pensamento e atos] as pessoas acreditarem num mito sem as minhas ponderações sobre diferenças entre postura e crença), e no fim podemos viver mesmo que as pessoas vivam num modelo dentro do modelo de outra (porque se eu pensar, o jeito que eu lido com as coisas, como descrito aqui, também é uma espécie de modelo). Também acho que é útil porque podemos ver de forma mais crítica qualquer palavra proferida e julgá-la de forma mais abrangente.

Isso de achar útil mas desnecessário também é meu, assim como qualquer opinião deste blog. São só coisas que eu acho e com as quais eu vivo, ou tento viver, de acordo.

Não sei como devo chamar-me por assim ser e pensar.

18 outubro, 2011

um erro em analisar as consequências

Considere um problema em que temos duas ou mais opções para escolher e que cada uma vai nos levar a diferentes consequências, e queremos saber qual a melhor. Pegando exemplos na sociedade civil, a legalização da maconha, a existência da meia-entrada para estudantes, a possibilidade da pena de morte. Como devemos pensar para tomar tais decisões?

Um grande erro que se comete, erro que também já cometi, é analisar como seria um mundo com cada uma das alternativas, mas ignorar que tivemos que fazer uma mudança em um dos casos.

Por exemplo, não adianta pensar como seria um universo em que as bebidas alcoólicas fossem proibidas e comparar com o mundo atual (na qual não são, não aqui no Brasil). Para saber se devemos ou não proibir as bebidas alcoólicas, devemos analisar o melhor entre deixar como está e fazer a mudança. Uma grande diferença, não?

Outro "erro", mas que no caso é praticamente proposital (uma atitude "política"), é discutir assuntos que têm bem menos relevância no resultado que se quer chegar do que outras possíveis ações ou práticas. Por exemplo, houve uma grande discussão sobre o "Estatuto do Desarmamento" (na qual me envolvi seriamente quanto podia), com direito até a referendo. Agora acho uma perda de tempo deliberadamente criada para desviar a atenção dos reais problemas de segurança no país. Teria sido bem mais válido fazer ações contínuas em melhorar a força policial e tentar resolver (num sentido meio matemático) um pouco da burocracia que envolve julgar um criminoso.