15 dezembro, 2011

aborto

Eu sou contra a descriminalização do aborto. Não por achar que o feto é uma vida humana, e tal. Pra mim não importa se a vida começa na fecundação ou no nascimento; esta é uma questão puramente etimológica. O que importa é como devemos tratar os fetos. Penso como um consequencialista/utilitarista (e só neste; não quero me prender a um rótulo para dar a opinião sobre os outros assuntos).

Não acho o aborto um direito natural do ser humano (nem da mulher, como pretendem algumas feministas). Não vejo por que seria. Ninguém é obrigado a engravidar; temos um verdadeiro arsenal de escudos contra a gravidez. Um deles, o preservativo, inclusive protege contra doenças sexualmente transmissíveis (DSTs). Se o aborto for liberado, diminuirá a pressão (principalmente sobre o homem) para o uso de camisinha, já que haverá uma defesa derradeira contra a gravidez indesejada (o aborto). Deve-se esperar um aumento de DSTs na população, já que o principal mecanismo que previne o contágio é a camisinha (além da abstenção). Outra consequência da liberação do aborto, um pouco sutil e pessoal, é tirar das pessoas, geralmente dos jovens imaturos, a responsabilidade sobre seus atos. Não quero ser moralista, mas quando uma pessoa engravida outra, elas têm que assumir as consequências. Este (o incentivo à irresponsabilidade) é um segundo dano à sociedade (além da maior incidência de DSTs), e contribui para meu posicionamento contra o aborto.

Há exceções em que raciocínio anterior falha, e o aborto passa a ser aceitável ou desejável. Por exemplo, quando representa risco de vida à mãe, ou quando a gravidez é resultado de estupro (dois casos onde o aborto é assegurado pela legislação). Pode haver outras possibilidades, mas minha imaginação não as está alcançando.

[Aproveito o clima de fecundação para dizer que eu nunca fui um espermatozóide. Eu só sou eu a partir do momento em que um espermatozóide se fundiu com um óvulo.]

09 dezembro, 2011

sobre a indicação de Rosa Weber para o Supremo Tribunal Federal

Indicar uma mulher para uma posição somente por ser mulher é tão machista quanto descartar as mulheres como candidatas à posição por serem mulheres. No primeiro caso se descartam os homens; no segundo as mulheres. Foi o que a presidente (ou interina, não estou certo ainda...) Dilma fez; foi seu exemplo de demagogia da semana.

PS: As cotas raciais vão pelo mesmo caminho. E quero colocar duas expressões na mesma frase: novilíngua (newspeak) e ações afirmativas. Obrigado.

04 dezembro, 2011

Por que você é um merdinha

(Agora que descobri o que é viés cognitivo, não paro de vê-lo nas atitudes das pessoas (inclusive minhas). Comecei a reparar também na autojustificação (nesse caso estaria mais relacionado à dissonância cognitiva, outro fenômeno do cérebro). Agora esses fenômenos mentais são bem mais explícitos do que nunca, e estou muito feliz por ter descoberto algo novo que me faz pensar todo o tempo. Faço essa introdução para dizer que eu não li tanto quando deveria sobre o assunto, e é exatamente por não saber direito quero mencionar algumas experiências relacionadas e escrever sobre o assunto antes de ter uma visão amadurecida. Mesmo me expondo bem mais a erros, quero escrever um post na base do achismo mesmo. Depois que eu souber mais sobre o assunto, postarei de novo. Acho que esse é o melhor caminho para estudar o assunto de mais maneiras e alargar minha compreensão do assunto. Mas fim de papo. Finjamos que o post comece abaixo.)

Reparo que as pessoas sempre conseguem justificar seus atos e ainda deixarem salvos seus padrões morais. Você desaprova qualquer manifestação racista, mas colorados (torcedores do Internacional, um clube de futebol) são macacos. Não temos nenhum preconceito contra homossexuais, mas o novo orkut é uma bichice. Mentir é errado, mas quantas vezes não se mente numa declaração de renda, fazendo pequenas omissões ou arredondamentos com desculpinhas ("ah, isso não entra no imposto", ou "ninguém vai verificar mesmo") nas quais realmente queremos acreditar. Eu tenho uma vida saudável, mas meus programas de exercícios e alimentação duram só os primeiros dias. Você diz que decidiu beber menos, todo orgulhoso de si, mas ainda é segunda-feira. Todo mundo é a favor da construção de novos presídios, mas não aqui. Há toneladas de outros exemplos, mas eu não vou me alongar (julgue você mesmo se este é um exemplo!!!).

Várias vezes o que acontece é que as pessoas assumem um ponto que é confortável pra elas, como se fosse o vértice mais inferior da letra V. Sempre se pode dizer algo bonito e satisfatório sobre como nos cuidamos, sobre quanto honestos ou corretos nós somos, e ainda dizer que não somos radicais (veja só! outra virtude nossa!) quando somos confrontados com nossas atitudes. Grandes canalhas nós somos, todos nós. Inventamos qualquer justificativa para nos perdoarmos de nossos vícios, defeitos e incoerências. É ridículo. (Pesquise mais sobre dissonância cognitiva. Eu pesquisarei.)

(Não deixa de ser curioso que todo este post e a minha angélica intenção de conhecimento formam um exemplo de um viés cognitivo, mas precisamente viés (ou tendência) de confirmação. Estou hiperanimado (eu era muito bom em português, mas depois dessa reforma ortográfica não sei mais hifenizar!) para pesquisar sobre esses assuntos, mas ao mesmo tempo reconheço que gosto bastante de ler sobre eventuais defeitos de julgamento do cérebro, e que estou ávido para ler as coisas que confirmam o que eu penso! Que coisa terrível, estou completamente enviesado e acho que vou aceitar muito facilmente o que me disserem como evidências de erros cognitivos, e praticamente ignorar as eventuais críticas. Preciso tomar cuidado para não me deixar levar.)

Não sei exatamente em que nível que se processa a má-fé das pessoas. Não sei se é mais vontade de convencer os outros ou de se convencer. Mas para mim há muita má-fé em muitas declarações. Comumente decidimos omitir o que desfavorece nosso ponto de vista por já "saber" que não são evidência suficientes para minar nosso argumento, e mencionar, nos justificamos, só iria confundir as outras pessoas. Lembro de uma reportagem, se não me engano, na revista Época, sobre o Lula e o SUS, condenando todos os que diziam que era um preconceito sugerir que ele se tratasse no SUS (ele está se tratando de um câncer enquanto escrevo). Quem ler vai concordar com o que está escrito, mas quando sabendo de mais coisas, nosso julgamento deveria ser diferente. A reportagem não menciona que Lula considerava o SUS próximo da perfeição (parece que ele até sugeriu que o Obama fizesse um, sábio internacional que é), e que disse que tinha vontade de ficar doente para se tratar numa unidade pública de saúde. Não acho que por isso Lula deva se tratar no SUS, mas acho que estas novas informações, omitidas na reportagem, legitimam as pessoas a levantem essa questão e a confrontarem Lula com sua próprias palavras.  Devo destacar, também, que me dá um sentimento ruim ler publicado algo com que não concordo, e me dá um alívio quando leio pessoas publicarem a mesmo opinião que eu tenho. Vejo isso bem mais claramente agora.

Outra fenômeno incrível (sobre este nunca achei referências; quem conhecer me avise) ocorre quando há uma discussão pública, geralmente em mídia escrita, com artigos ou posts, por exemplo. Os dois lados conseguem ter razões, e quem já defendia um lado acaba somente fortalecendo sua posição. Digamos que há dois sujeitos de diferentes opiniões, X e Y, e escrevem alternadamente os textos A, B, C, D, E e F, nesta ordem. Quem lê X vai ver o texto A, o texto C desmontando o texto B, o texto E desmontando o texto D. Ou seja, vai ver ao longo de toda a discussão, cada vez mais surgiam argumentos que somente fortaleciam o ponto de vista de X. Já as pessoas que leem Y vão ler o texto B que critica o texto A, o texto D criticando o C, o texto F criticando o texto E, e encontrarão uma montanha de argumentos sustentando a posição de Y. Assim, cada lado sai com mais certeza ainda da discussão, certo de que além de destruíram completamente a sustentação do ponto de vista oposto. Isso não ocorre só na mídia escrita, claro. Ao menos no meu ponto de vista, isso acontece nas várias vezes em que discuto e que sinto sair vitorioso. Penso que o outro lado também pense sair vitorioso.

Resumindo: o pensamento funciona mal, e nossos cérebros são ferramentas defeituosas. Quem escreve aqui neste blog é um cérebro (que explora alguns ossos e músculos anexados), que clama ser defeituoso.