20 agosto, 2009

Usando o lema de Borel-Cantelli

Na verdade o título é uma enganação: vou usar a ideia de uma singela condição de um dos casos do lema de Borel-Cantelli. Mas, como vês, aqui se faz tudo pela simetria.
Se, pelo contrário, o título te afastou, azar o seu.

Vou falar sobre adaptação. Geralmente, nós podemos sofrer para fazer algo, até que o ato se torna suficientemente natural para que não soframos tanto: vamos nos adaptando. Pode ser ruim passar um dia sem chupeta logo quando se deixa de usar ela, mas depois deixa de fazer tanta falta. No início pode ser ruim ir na escola, mas depois podemos nos acostumar. Ou pegar ônibus lotado, ou enfrentar longas filas em bancos, ou ter de trocar uma lâmpada, ou usar salto alto.
É essa a história. (Ou estória? Cabe investigar...)
Claro que geralmente o sofrimento diminui com o passar do tempo: vamos nos adaptando à situação. Esse é um critério para o sofrimento: ele começa grande, mas fica menor cada vez que repetimos a experiências. E isso seria uma compensação para aprendermos a habilidade, ou colermos os frutos do hábito que começou ruim mas ao qual acabamos nos acostumando. Em geral, as pessoas acham que se o sofrimento (o "custo") diminui com o passar do tempo, pode ser uma boa empreitada.
Quero propor um segundo critério. Segundo ele, em vez do sofrimento ser cada vez menor, para a coisa ser considerada "suportável pelo segundo critério", a soma dos sofrimentos deve ser... finita!
No caso discreto, temos uma série. Ela convergir quer dizer que o sofrimento de cada dia (digamos que seja um ato por dia) decresce rapidamente. Por outro lado, se a soma dos sofrimentos ainda for infinita, pode não ser um custo viável a se pagar para adquirir a habilidade ou transpor o obstáculo. Por exemplo, se o custo por vez cair como o inverso do tempo (e isso no caso contínuo também), pode ser um preço muito alto a se pagar para a adaptação.
No caso contínuo, devemos pensar que temos algo como uma integral imprópria de custos. E eles podem custar pouco ou muito, conforme a área embaixo da curva seja finita ou infinita.

A origem desta ideia [a da postagem, cabeça] foi quando tentei usar lentes. O sofrimento podia ser menor a cada dia, mas ainda era suficientemente lento para decrescer. Conclusão: um custo muito alto a ser pago, segundo o segundo critério.

Eu ignorei que nossa vida é finita. Um erro que considero passável. De qualquer forma, propus um critério baseado em um critério matemático (muito melhor para avaliar séries e integrais impróprias que a mera convergência a zero). Por isso, talvez haja algo de interessante por aí.

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