26 julho, 2011

por que não gosto tanto de bebês

Muitas pessoas babam e se derretem pelos bebês. Adoram ver as reações deles ao tchuque-tchuque. Eu não gosto muito disso. Considero que a maior riqueza de uma pessoa está não nas suas sensações primárias, mas sim nos seus pensamentos que vem depois de reflexões sobre muitas experiências. Não é fantástico pra mim ver como os bebês sentem seus pezinhos. Mas realmente desperta meu interesse quando, depois de relativamente crescidos, e depois de aptos a falar sobre tais assuntos com alguma maturidade (talvez só na adolescência), posso ouvir o que uma pessoa pensa, poder ver outra mente em funcionamento! Isso pode ser ainda mais gratificante se pude influenciar no seu desenvolvimento.

25 julho, 2011

evidências e ausências

Não ressaltarei a importância, nem a certeza, nem a estranheza. Ressaltarei que ausência de evidência significar evidência de ausência(Carl Sagan; não confundir com Sangan) é uma dúvida definidíssima. Se a acho a questão central do universo (e tudo o mais), não, embora reconheça que ela é importante no que conhecemos e consideramos o conhecimento e sua validação. Se a questão está solucionada na minha cabeça, não! Seguindo este texto, ótimo em muitos aspectos, não sugerirei ao leitor que aproveite como quiser.

(No post anterior, ridicularizo (para aqueles que ainda não perveberam a ironia daquele...) algo parecido com a ideia de ausência de evidência ser evidência de ausência. Devo dizer por que a analogia não é perfeita. Os fósseis (e os vídeos e os perfis do Facebook) dos intermediários não seriam exatamente uma evidência da evolução, mas sim uma evidência da existência desses intermediários, e não do processo através do qual os seres vivos se modificam com o tempo... A diferença é bem delicada, mas na minha opinião de hoje existe.)

Imagino como deva ser um modelo do conhecimento que contenha certa álgebra (outra palavra seria estrutura). Se tenho uma afirmação (que possa ser admissível no modelo) e existe uma medida de valor (talvez uma probabilidade de veracidade), deveria esperar (essa seria a estrutura ou álgebra) que esse valor se alterasse conforme os fatos que estivessem disponíveis. Se houvesse tal fato corroborando a afirmação, seu valor (ou probabilidade) de verdade aumentaria, e caso se soubessem falsas tais evidências, seu valor (ou probabilidade diminuiria). Na ausência de tais evidências, o que dizer? Provavelmente diminuiria o valor da verdade pouco a pouco (por exemplo como alguma curva decrescente que nunca atingisse a 0, no caso da probabilidade) conforme as evidências não fossem encontradas (mas saltando para um valor maior quando e se essas evidências fossem encontradas).

Mas isso que falei só faz sentido supondo que há um modelo coerente (na verdade funcional, e com essa exigência estamos implicitamente num modelo, com outras suposições) que obedeça às regras acima (que me parecem razoáveis, mas intrinsecamente não são razoáveis, creio). Daí faria sentido falar em ausência de evidência implicar uma evidência de ausência, abaixando lentamente nossa crença na afirmação à medida em que as evidências que a fariam aumentar seu valor não aparecessem.

Mas também não é necessário que a ausência da evidência altere o valor da crença. Afinal, podemos dar nomes às nossas álgebras ou estruturas conforme o que elas satisfazem (um grupo, uma álgebra graduada, um anel comutativo com unidade), e cada jeito seria uma definição do que gostaríamos que modelasse o nosso conhecimento. O que é mais razoável é, para mim, uma decisão mais humana e pessoal que intrínseca. Não sei dizer se há algo que realmente se encaixa num tipo (ausência da ausência leva à diminuição do valor da afirmação com o tempo) ou no outro (somente evidências contrárias abaixariam o valor).

Note que quando pensamos na estrutura em que a falta de evidência faz o valor decrescer lentamente com o tempo, já estamos pensando que... existe um tempo! Com o que conheço de Física tremo com a força dessa hipótese.

Outra ideia legal, tergiversando, é a ideia de Kant sobre o tempo (ter lido O Mundo de Sofia há pouco tempo está em fazendo bem). Ele diz que percebemos as coisas através de filtros, que tudo que percebemos ocorre como eventos no tempo e no espaço (e também que associamos causalidade a fatos sucessivos). A relação me parece óbvia: a pergunta se o tempo é algo tão intrínseco no mundo ou se só faz parte da nossa visão e como acomodamos as coisas. Mesmo que seja somente pessoal (talvez não faça sentido dizer que é ou não é, no modelo dos modelos), ainda podemos pensar em decrescimento temporal. Mas tudo isso nos põe a pensar e a duvidar de estruturas universais e naturais.

A conclusão provisória (como todas, acredito por enquanto): quando dizemos que ausência de evidência é ou não é evidência de ausência, já estamos pensando (ou deveríamos estar pensando) numa estrutura em que isso faça sentido. Impus condições que me pareceram razoáveis para tal estrutura de modo que os conceitos fizessem sentido. Pareceu-me relativamente simples, mas foi só um jeito de formalizar os conceitos (ausência de evidência e evidência de ausência), e não necessariamente o jeito canônico ou natural. Se o conhecimento funciona numa das duas estruturas sugeridas não podemos saber com certeza, mas creio que podemos usar qualquer uma das duas estruturas para obtermos resultados úteis e práticos mesmo que seja só na duração da nossa vida. E isso também é um modelo ou estrutura de pensamento. Se algo puder ser dito sobre a validade da afirmação de Carl Sagan, é: depende do contexto.

Fugirei do assunto agora para ressaltar outro uso de uma ideia. O argumento ontológico para a existência de deus nos pede para imaginar um ser perfeito,o melhor de todos os seres. O argumento ontológico segue dizendo que tal ser perfeito existe, pois um ser perfeito existente é melhor que um ser perfeito inexistente, o qual portanto não seria perfeito... e se nomeia deus como tal ser perfeito (esta é a parte mais razoável... o maior problema, já vou adiantando, é jogar para esse deus todas as propriedades que os humanos acreditam que ele tem).

Um motivo para o argumento ser furado é: por que podemos comparar coisas dizendo se são melhores ou piores que outras? Isso tem um termo definido em Matemática (conjunto totalmente ordenado). Por que o conjunto de todas as coisas pode ser totalmente ordenado?

Na verdade, existe uma coisa que se chama Axioma da Escolha, que diz que todo conjunto pode ser bem ordenado (como consequência totalmente ordenado, mas são coisas distintas). Mas o ponto chave é: essa boa ordenação satisfaz o que queremos? Queremos que haja um supremo (o perfeito é o ser que é melhor do que todos os outros), mas não só isso. Há outro ponto crucial: o que tal ordem tem a ver com as medidas humanas do que é bom ou ruim? Esse na verdade é o ponto mais forte e significativo. Sem ele, mesmo que se considere o Axioma da Escolha e que existe tal supremo, deus, o ser perfeito, pode ser qualquer coisa, como uma toalha artesanal norueguesa... Pegando outro exemplo da Matemática, os números complexos têm uma ordem total (a lexicográfica, por exemplo). Mas quando exigimos que uma ordem nos complexos satisfaça condições que parecem razoáveis (tipo produto de positivos ser positivo, aqui supondo a existência de um zero e de um produto, e portanto um anel pelo menos), prova-se que não existe tal ordem!

24 julho, 2011

O argumento derradeiro que vai derrubar o evolucionismo...

Uma suposta evidência contra o evolucionismo são as lacunas no registro fóssil. Isso que dizer que não há fósseis de todos os intermediários (entre duas espécies, deveria haver uma sequência que vai ao passado e retorna ao presente por relações de pais&mães/filhos).

Bem, se isso é um sinal de que esses intermediários não existem, há sinais bem mais fortes. Por exemplo, o fato de não haver fotos dos intermediários também concorre contra a existência deles. Outro fato, mais veemente ainda, é a inexistência de vídeos onde tais intermediários aparecem! Tampouco há intermediários no zoológico.

Sendo assim, é impossível que os intermediários existam! De fato, isso quer dizer que a evolução é falsa e portanto (obviamente, ou preciso explicar o porquê?) Deus criou tudo, é o senhor e nos ama.

(PS: Esse Deus é o personagem do livro Bíblia, vários autores.)

09 julho, 2011

definindo conjuntos

Lembrei de algo que pode ser útil. Sobre os jeitos de definir conjuntos. Podemos tanto dizer que propriedades os elementos tem (claro, seguindo ZFC, isso só funciona se estivermos restringindo a um conjunto, e não pedir por todos com aquela propriedade. Se você não entendeu, pense em {x|p(x)} e {x em A|p(x)}. Só o segundo é válido), como dizer quem são seus elementos.

Digo que pode ser útil porque é falso que dada uma ocorrência ou uma regra ela deva se aplicar necessariamente sobre um aspecto do mundo real. Dito de outra forma, nem toda analogia é verdadeira. (Analogias deveriam ser usadas para explicar... não para justificar.)

Voltando, eu posso para explicar um conceito, tanto exprimi-lo em outras palavras como citar exemplos. Com isso fico mais livre e respiro aliviado.

Mas não vamos ser relaxados e displicentes. Leitor: quer dar uma pausa na leitura e descobrir sozinho o que vou dizer?

O problema no que falei é que para definir o conceito pelo segundo método eu precisaria citar todos os elementos dele. Ou seja, não funciona.

Até pode funcionar para casos finitos (por exemplo, os titulares do próximo jogo da seleção brasileira de futebol, no sentido usual de tempo no nosso ou ao menos meu modelo...), mas aí é bobo demais. Claro que eu só posso falar enumeravelmente e por isso supostamente poderia compreender todos os elementos usando algo equivalente aos pontinhos em {1,2,3,4...}. Infelizmente, acho que nesse caso recaímos no caso anterior (se dizer a propriedade dos elementos), e acho que não se pode avançar.

Mas boa tentativa, um abraço pra mãe, beijo pras prima!

08 julho, 2011

delícias oníricas

Hoje tive um sonho especial.

Primeiro, entre outras coisas, sonhei que eu participava de um de duas equipes em uma espécie de competição musical. Sei que havia atrito entre as equipes (os apertos de mão não eram cordiais). Acho que as duas tocavam ao mesmo tempo e depois uma plateia escolhia a vencedora. Sei que entrei bem em cima da hora no círculo (cada equipe ficava num círculo de oito ou dez integrantes, cada um com um instrumento), e que não lembrava qual era o meu. Aí meio que me apontaram a cadeira vazia do círculo, onde estava meu instrumento, uma espécie de bafômetro com snorkel (ele devia ser ligado para funcionar, tinha um botão de abafador e devia ser soprado como se fosse um bafômetro). O curioso é que eu, ao ver o instrumento e examiná-lo, eu soube que nunca havia visto um daqueles antes (e portanto não sabia tirar som do instrumento) e que aquilo era tão onírico que estava acontecendo num sonho!

Saber que se está sonhando já é legal. Daí o que tentei fazer foi anotar mentalmente o nome do instrumento (que no sonho eu sabia) e escrevê-lo assim que pudesse para não perder a informação. Comentei com uma pessoa (via MSN) sobre o sonho, citando praticamente toda a postagem até aqui, mais o nome do instrumento. Além de escrever ajudar a gravar, minhas conversas ficam salvas, de modo que eu não perderia a informação. Tudo muito bom.

Só depois que eu acordei. Em especial, não sei diz er o nome do bendito instrumento (mas eram duas palavras).

Resumindo (ou esclarecendo), num sonho eu sei que estou sonhando, no outro sonho penso que estou acordado e tento escrever sobre o sonho anterior para garantir que não vou esquece-lo.

Com esse texto, gravo estes meus sonhos peculiares no meu blog. Mas será que ainda não vou acordar mais uma vez?

Apesar de não poder responder essa pergunta, penso que o jeito certo de agir é como se não houvesse mais um despertar de realidades. Acho muito mais produtivo esse método (de modelos, que são mais ou menos adequados, mas são só modelos do mundo) do que precisar ter certeza sobre as caracterizações das coisas do mundo.

06 julho, 2011

apologia da religião

Sou a favor da religião, mas só para fins medicinais. Por exemplo, ministrar Jesus a doentes terminais para que sofram um pouco menos e possam ter um pouco de esperança numa outra vida (já que a atual...) Ou usar a religião como redução de danos para pacientes viciados em drogas, da mesma forma que se oferece (embora a eficácia não esteja comprovada) maconha a dependentes de crack para que substituam um vício por um menos nocivo.

03 julho, 2011

as síndromes às quais os blogueiros estão sujeitos

A primeira delas (a ser listada, não que ocorra primeiro) é a compulsão em postar. (A sensação é de que) Tudo tem que ser postado, escrito, documentado, tudo que acontece (no cérebro, no ambiente de trabalho, nos jornais) deve ser comentado (geralmente primeiramente) no blog,. Acho que o grupo de maior risco é dos que usam Twitter, e um pouco algumas redes sociais. Mas blogueiros tradicionais também podem ser afetados.

Já passei por essa síndrome. No meu caso, cada pensamento originalzinho que eu tinha devia ser anotado (mentalmente; posteriormente fisicamente) para ser posto no meu blog quando eu usasse o computador. Não considero tão grave; quando olho os arquivos do blog, encontro várias ideias interessantes (e algumas que são indecifráveis agora), e além disso treinava minha argumentação (ou deteriorava, por não haver exigências oficiais e escrever sempre para as mesmas pessoas, em vez de para todos). Se foi bom ou ruim pra mim, não sei julgar. Mas acho melhor (quando as postagens são pensamentinhos; passeie por meus blogs para ter centenas de exemplos) que o jeito "seqüestre-me" de postar, ou aquele em que se copiam imagens ou textos bonitinhos da internet. (Claro, isso porque, como recém escrevi, gosto do meu estilo de postagem.)

Outra síndrome, que pode vir um pouco depois da anterior, é a síndrome da referência. Ela acontece quando você escreve bastante coisas no blog (ou pelo menos já escreveu), e em parte dos seus diálogos você dá a referência do blog em vez de argumentar/relatar/comentar novamente o assunto/ideia/piada.

Já "sofri" essa síndrome. O blog era a minha obra de referência. Quando queria comentar algo com alguém, acabava escrevendo primeiro no blog, e no fim recomendava a leitura em vez de reconstruir o que eu queria comunicar.

Da terceira síndrome fui curado (espontaneamente) hoje. É aquela síndrome em que você esquece que o blog existe...

Meus blogs. Ou: A história do pensamento (do Eduardo Fischer)

Mantenho blogs há praticamente sete anos. Claro que dá um pouco de vergonha lembrar do primeiro, mas já faz uns cinco anos que faço blogs do jeito que faço agora. É o meu jeito certo, como eu gosto. Evitando links ou imagens; publico ideias que seriam originais caso eu fosse o único pensante existente e tampouco houvesse livros de filosofia. Aliás, não sei se já confessei, mas é gratificante quando algo que pensei (sobre mente humana, comportamente, ontologia) tenha sido algo proposto ou debatido por algum filósofo de verdade.

Uma coisa que me lembro é que quando criança (não saberia precisar a idade; minha estimativa é de algo tipo aos seis anos) é que eu pensava que tudo no mundo era voltado a mim. Pensava que cada reação das pessoas era exclusivamente a mim, que as coisas aconteciam e a importância delas era a importância em me afetar. Na verdade não pensava isso todo o tempo; sei que transitava entre essa visão egocêntrica de mundo e "heterocêntrica" (minha palavra, visão de mundo em que cada pessoa é uma mente, e que a natureza se comporta indepentemente delas), sem saber o que realmente acontecia. Será que estavam todos armando pra mim e eram minhas emoções que importavam? Na minha mente infantil, era uma dúvida pertinente. Depois predominou a visão heterocêntrica com um deus existente (mas não que eu pensasse nele toda hora, so acreditava que existisse). Aos catorze anos me tornei ateísta sentado na cadeira que sento para fazer as refeições na casa dos meus pais (era outono, minha mãe estava presente e havia garotos andando de carrinho de rolimã na minha rua). Passei por uma fase que poderia ser considerada meio fascista. Digamos que eu achava uma ideia razoável jogar bombas nas favelas para diminuir a criminalidade e aumentar o padrão de vida médio das pessoas. Está nos meus planos (mas não na prancheta) publicar o conteúdo das minhas redações daquela época; mundaréu de pérolas. Depois, posso dizer (com certo orgulho) que meu desenvolvimento mental está bem documentado no blog. Inclusive, tanto algumas palavras minhas agora poderiam ajudar alguém a interpretar meu espírito em épocas passadas do blog (e não só esse) como ler postagens antigas dá mais clareza (como se fossem documentos históricos) para que eu mesmo entenda aqueles momentos.