07 novembro, 2008

"Deus é"?

Certa vez numa diminuta conversa sobre a existência de algum deus, recebi uma resposta como "A questão não é 'Deus existe', mas 'Deus é'." Eu fiquei abismado com isso, não consegui entender o que se queria dizer com aquilo. Simplesmente não entendi. Também como depois tive dificuldade em entender o que alguns filósofos gregos queria dizer com "as coisas são".
Hoje acho que o que a tal pessoa (uma mulher) disse não faz tanto sentido. Quer dizer, se ela afirmar "Deus é", e não houver como explicar essa frase com outras palavras, então essa frase não poderá ser usada para concluir nenhuma outra coisa, ela não poderá sustentar afirmação nenhuma. Afinal, qualquer argumento terá que passar pelo significado (ou por uma parte dele) de "Deus é", e sendo essa frase incomunicável com as outras, não haverá como usá-la para basear outras.
Mais geralmente, se alguém assume algo como verdade (que sununuas agacham pianos, inventando um exemplo agora) e não pode explicá-la em outros termos (claro, às vezes há de se perdoar a dificuldade em explicar um conceito... mas é que tem gente que gosta do mistério, da obscuridade, sabe?), o melhor seria ignorar essa "verdade", considerando-a somente uma crença sem importância do outro.
E isso deve ter muitas aplicações!

PS: Ainda não defini meu padrão para o significado preciso das palavras 'deus' e 'Deus'. Embora 'deus' seja mais facilmente estabelecido como alguma divindade, normalmente 'Deus' pode especificar em especial o deus da crença cristã ou algum outro deus "pessoal" (interventor, ou bondoso, ou de repente criador).
Mas meu padrão, quando eu escolher, será brasileiro, ao contrário do da tevê digital. (Como será que ficou a frase com a omissão de uma palavra?)

3 comentários:

Thai disse...

Teus posts estão cada vez piores (ok, ao menos tu escreves...). E se fui essa "mulher", bem, talvez eu não tenha deixado claro as concepções da cópula na ocasião. Mas, bem, saiba que o tal "é" tem mais de um sentido. E, no caso, "Ser" pode muito bem equivaler a "Existir".

Outra: nada a ver isso de Deus com letra maiúscula equivaler ao ser supremo cristão. Apenas remete um sentido mais respeitoso à palavra. Só isso. (E, olha, por mais que não exista um motor imóvel [sei lá...] considero que apenas a concepção lógica e aristotélica de um ser assim já basta para que ele seja tratado com bastante respeito.)

Thai disse...

E vá estudar um pouco de filosofia (inicie com os pré-socráticos, já que parece bem leigo no assunto) antes de criticar quem usa seus termos (corretamente).

Fischer disse...

Bem, Thaiani, não foste tu quem disse aquilo. Foi com a professora de um curso "independente" de filosofia (infelizmente não lembro o nome).
Talvez algumas coisas não tenham ficado claras, e acho que tu viu mal o que escrevi. Eu estava dizendo que não acreditava que "Deus" (já volto à questão da maiusculinidade) existia, e ela disse que Deus não existia, "Deus é".
Montei o post quando pensei na situação e visualisei o que (eu acho que) estava acontecendo: a introdução de um jogo de palavras na discussão. Ao menos era para mim. Se Deus não existia porque Deus era, ele existia, ou não? Quer dizer, ao menos fiquei confuso.
Quando digo que o que ela disse não fez sentido, falo como argumento: "Deus é" não é melhor para rebater "Deus não existe" do que "Deus existe". Quer dizer, para mim a contraposição "Deus é"/"Deus não existe" é uma oposição, "ser" não é uma formulação "salvadora" para a "existência" de Deus.
Foi isso que critiquei. O uso de "Deus é" para querer dizer que eu estava errado pensando que Deus não existia, porque na verdade Deus é. Reformular "Existe um Deus?" como "Deus é?", no caso, pareceu um truque de retórica. Repare que o truque vem da reformulação sem sentido, sem significado: não é possível voltar. Ou seja, não é possível mostrar que Deus é e que isso significa que Deus existe. Do contrário, o fato de Deus não existir, como afirmei, implicaria que Deus não é.

O uso de 'coisas são' está consolidado na filosofia pois é como os antigos expressavam suas idéias (se bem que em outra grego [corrija se estiver errado] as palavras possam ter vários significados, assim como o verbo 'to be' em inglês significa tanto 'ser' como 'estar'). Na minha opinião isso é um pouco confuso, provavelmente porque não estudei o suficiente e não me habituei, mas de qualquer forma acho desejável que a notação permaneça.

Quanto a 'Deus' com letra maiúscula, aquele PS se referia mais à minha notação própria do que à geral. Repare em como usei aspas simples e aspas duplas. Não está tão regular. Num dos primeiros posts do blog tive a intenção de fixar a notação, o que significava envolver palavras com aspas simples e duplas.
Foi referente a isso meu pós-escrito. Só que no caso, disse que não havia "decidido" o que chamaria de 'Deus'. (O uso das aspas não é exatamente como sugeri naquele post, mas segue em parte.) Eu ficaria sinceramente contente em achar uma boa notação que simplificasse a minha escrita quando falasse de deuses; a sua sugestão (do meu ponto de vista [encaixe isso em 'sugestão' ou em 'é']) é razoavelmente boa. (Tá, eu concedo, é boa. Pensarei melhor nisso.)