26 dezembro, 2008

ciências exatas na literatura

Reparo que quase nenhum escritor brasileiro (falo isso pois li poucas obras estrangeiras) tem alguma intimidade com matemática nem por ciências afins. Dentre os personagens que declaram alguma relação com as ciências exatas, acho que a imensa declara não ter afinidade com elas (o que é parcialmente compreensível; eu nem consigo imaginar, para uma história, uma pessoa muito diferente de mim sem cair em algo muito bobo ou estereotipado), enquanto os poucos que conhecem essas "artes exatas" tendem a ser* personagens secundários, personagens a serem comentados mas sem fazer parte do miolo principal.
Quando a obra literária for confessional (no sentido de o principal personagem for explicitamente o escritor ou uma reencarnação dele, geralmente em primeira pessoa), quando há desconforto entre o personagem e as "artes exatas", este é expressado de uma forma estranha (para quem é um pouco mais versado), como se o falante tratasse números e retas como se fossem duma origem alienígena. Ou às vezes um "nunca entendi bem os logaritmos e os ângulos retos", dum jeito que acaba me convencendo que a tal pessoa realmente não tinha muita afinidade (e não montou um modelo mental favorável ao emprego dos termos matemáticos).

* Sentido usual.

2 comentários:

Thai disse...

É que talvez a vida seja um pouco mais ampla do que equações e rabiscos na lousa.

Fischer disse...

Acho que as pessoas formadoras de opinião geralmente não têm afeto por descrições mais exatas do mundo (nem que sejam em forma de palavras, como a conservação do momento linear e da massa/energia).
Há ainda aquelas que gostam de números, principalmente antecedidos do caractere '$', que também são consideradas importantes.
E com certeza a vida é muito mais que qualquer equação, mesmo que ela seja a mais bambambã da Física Quântica ou ainda a central da (ainda por vir, se vier) Teoria de Tudo. Mas ainda assim alguns ramos da matemática parecem ter uma beleza divina (ou melhor, intrínseca). Existem alguns teoremas lindíssimos, e simplíssimos.
Veja só: Dentre os números de 1 até N, a porcentagem dos que são primos é proporcional ao logaritmo de N (em qualquer base). (Esse é o Teorema dos Números Primos. Um tanto inusitado: qual a relação entre logaritmos e primos? Não sei! Por isso que acho fantástico.)
Outro exemplo simples é que todo polinômio tem raiz complexa. (Esse eu entendo. Mas ainda assim ele é, pra mim, compacto e bonito.)