07 março, 2009

Do policial e do fotógrafo em um incidente particular

Pra quem não é do Sul ou é mais desligado que eu em notícias, houve um espancamento entre moradores de rua embaixo da ponte do Arroio Dilúvio (ou seja, quase na avenida Ipiranga de Porto Alegre). O policial que interrompeu a cena (a vítima estava sangrando bastante) reclamou que ninguém interviu, estavam somente vendo como se fosse uma cena de filme. Tenho admitir que provavelmente faria o mesmo; não teria coragem de intervir; talvez chamasse a polícia. Mas provavelmente não, haveria pessoas para me proteger dos moradores, se fosse o caso, e qualquer um poderia chamar, tanto que ninguém chamou.

O jornalista, em compensação, tem tanto um impedimento como uma desculpa para não agir. A razão é a mesma: tirar as fotos, filmas, registrar o momento. Uma função ingrata. E o fotógrafo, nesse incidente, resolveu tirar as fotos para mostrar como a vida é só um fio numa metrópole cinza (e ao mesmo tempo como a vítima tentava sobreviver, com expressões faciais que lembravam realmente os filmes). Escolha polêmica. Esta ainda tem a ressalva de que a intromissão poria em risco a vida do repórter, ao contrário de uma situação muito mais controversa, em que a mãe tentava salvar o(a) filho(a) de morrer afogado(a) num poço enquanto o fotógrafo disparava os flashs da cena. O crédito pelo registro do momento superou a vontade de agir (e por que não dizer, instinto? Poxa, estava se afogando, e era uma criança!).
Talvez haja repórteres que preferem agir. Contudo, nesse caso, a notícia vira um pequeno retângulo de escrita que não chama a atenção como fazem as fotos. (Este é o velho problema de fazer estatística. Como ir a um clube, e perguntar a frequência com que se vai no clube. A pesquisa dará um resultado acima da média real.)

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