04 março, 2009

Furos da fila

Hoje vi alguma expressão mais pública do descontentamento de alguns (para não dizer muitos) com os furos na fila do restaurante universitário (RU). Vi três cartazes, que são parecidos* com os seguintes:
"Você universitário - um dos melhores homens do nosso país - carrega sobre as costas o peso e a importância de um futuro melhor, e a sociedade sente orgulho em tê-lo. Como você demonstra a sua gratidão? O bom exemplo é a sua principal ferramenta. Use-a."
"EU não quero lutar sozinho pelo NOSSO direito. Manifeste-se. Não deixe que furem a fila. Hoje um colega se atrasa. Amanhã pode ser você."
"O seu ensino é de nível superior. E a sua educação? Colabore. Não fure a fila."

Achei muito animador que alguém tenha essa iniciativa. Pensei várias vezes em como seria bom e positivo... mas nunca a realizei. (Aliás, já fazem mais de seis meses que quis escrever sobre o furo das filas e uma comparação entre Encantado e Porto Alegre. Mas não executei nada.) Nesse ano havia decidido ser mais incisivo em defender meus direitos de fila, nem que para isso tivesse que engrossar um pouco com as pessoas. (Falo isso porque não tenho muito jeito para abordar nem para manter a conversa, acabo dizendo palavras afiadas. Deveria fazer mais uso da "paradinha da conversa", que é o silêncio na hora certa.) Fico feliz em ter parceiros na atitude de lutar contra; isto me dá muito mais moral para reclamar, apesar de na hora a gente se sente palhaço quando não nos dão atenção.

Hoje, que foi o primeiro dia em que vi os cartazes (talvez foram postos hoje mesmo) também vi um dos responsáveis, que apareceu com um ainda não colocado (portanto são ao menos quatro) e falou com um rapaz que furou a fila, a interceptando onde estavam seus "amigos", na escada. O legal foi que mesmo antes dele houve reclamações, teve um que o chamou de furão, um de cara de pau. Era nas escadas, nem havia aberto ainda o RU. Por sorte ele acabou saindo, não almoçando com os amigos com quem se reuniu.

Vejo dois motivos para lutar contra o furo das filas. O primeiro é geral: é injusto. A função da fila é justamente garantir que quem chegue antes seja atendido antes (um belo FIFO - quem sabe o que é isso?), o que parece ser um sistema universal de atendimento. O mais natural, se somos todos iguais, é separar-nos por ordem de chegada: quem chegou antes já dispensou mais tempo, e merece ser atendido antes. Seleções de pessoas são mais adequadas quando se busca alguém (como entrevista de emprego; o trabalho não é de quem chega antes!), não quando é um serviço oferecido (pago, naturalmente). Furar fila é injusto na medida que quem fura não é mais merecedor do serviço (no caso o almoço bom e barato do RU) que qualquer outro que já esteja na fila. É uma quebra da convenção, que devia ser respeitada, da fila. (Mas deu de repetir a mesma coisa.)

A segunda é pessoal mesmo: porra, cada ser que passa atrasa mais seu almoço. E não adianta dizer que é só um; não é, nunca foi enquanto estudei na UFRGS. Uma coisa de que não tenho dúvida é de que é falso que um não faz diferença. Faz diferença, assim como vinte fazem diferença. Se não for lutar pelo que é direito, que seria a manutenção da ordem na fila, você pode ser um pouco mais egoísta e lutar pelo direito de manter o seu lugar. Sim, porque estando na fila você guarda o seu lugar. O que não pode é guardar o lugar dos outro, isso não é desculpa. Guarda-se lugar em fila com a presença; é esse o uso mais coerente que vejo nessas palavras.

Muitas vezes a gente age sem pensar, sem saber o que estamos fazendo. Com este post tenho (e dou para outros) um embasamento teórico para justificar algumas atitudes.

Tenho o defeito de muitas vezes não por em prática meus planos por medo de ser só um, como se eu estivesse na contramão. Mas tendo apoio, sabendo que outros adotam as mesmas ações, fica muito mais fácil para mim virar um defensor de tal atitude.


*Adendo (12/03/09): No total são seis plaquinhas. As que eu citei são a terceira, a quarta e a quinta; agora modifiquei o texto e elas estão totalmente corrigidas (o sublinhado aqui virou um itálico, e tirei as quebras de linha). As duas primeiras e a sexta, nessa ordem e com as mesmas palavras constituintes, são:
"Você furou a fila hoje? Então eu vou me atrasar para a aula."
"É interessante a imaturidade das pessoas. Veja só: algumas ainda pensam como se estivessem no primário. Agem como crianças quando em grupo; roubam um doce e pensam estar com a razão, quando a sós até percebem o erro que cometem. Mas a necessidade de parecerem os donos do mundo que nunca obedecem às regras é maior que seus pequenos sensos críticos. No fundo são exatamente aquilo que procuram não ser: inseguros."
"O que mais preocupa não é o grito dos violentos, nem dos corruptos, nem dos desonestos, nem dos sem ética. O que mais preocupa é o silêncio dos bons. Martin Luther King."

Um comentário:

Leonardo Pereira de Lima disse...

Depois de tanto escrever sobre o assunto, hj descrobi esta sua postagem!!

É bom saber que mais pessoas ainda tm essa consciência.

Muitas idéias em comum!

Um abraço,

Leonardo
www.respeiteafiladoru.blogspot.com