04 outubro, 2007

dos diálogos e de outras proposições (em certo sentido)

Consegui formular mais ou menos por que os diálogos têm tanto poder de persuasão e por que eles não são verdadeiros argumentos. Uma grande descoberta! (E que se liga a várias outras coisas importantes, veja só!)

Quando você quer convencer alguém escrevendo um post na forma de um diálogo, você pode pôr as palavras que quiser na boca de quem "perderá a discussão". Melhor fazer um exemplo:

É sobre uma vegetariano (dos que não querem se alimentar de carne por motivos morais) que pega carne em um restaurante para dar para os cachorros.
- Ei, se tu é vegetariano porque tu sempre pega carne quando se serve?
- Ah, é pra dar para os cachorrinhos que estão lá fora. (Nota "técnica": há restaurantes universitários em que há cachorros na saída.)
- Tá, mas tu tá matando um animal pra dar de comer para o outro!
- Mas é normal que um animal coma o outro! Sempre é assim na natureza.
- Ah, e tu não é um animal?

Assim, pus as palavras que quis, e ficou uma discussão coerente (na verdade não sou muito bom para fazer essas coisas, mas eu achei razoável...). Só que ela não prova nada. Ela sugere que vegetarianos (morais, não alguém que por algum motivo não coma carne) que alimentam qualquer animal com um outro animal está sendo incoerente na sua postura; afinal, está trazendo sofrimento (ou morte, melhor dizendo) para um animal em benefício de outro.
Se eu quiser apresentar um verdadeiro argumento contra o vegetarianismo e atitudes associadas devo dizer porque qualquer argumento que se use a favor é falso. E isso não se faz num diálogo (ou melhor, o diálogo sempre passa a impressão de que o assunto de esgotou, que alguém "venceu" e de que chegamos a uma conclusão). Ou melhor, se faz, porque mais importa convencer a outra pessoa do que montar um raciocínio verdadeiro. Mas se mais importa convencer, então tanto faz mentir e enganar e subornar e várias outras coisas ruins.
Para mostrar mesmo, acho que se deve escrever por extenso - fica mais fácil descobrir os erros e é mais transparente para quem lê (isso para quem se importa). Pode-se, assim, ter uma visão mais geral (e repare que não é linear - é menos linear e que o diálogo) do assunto.

Agora de outras coisas. Assim como um diálogo não deve ser usado como argumento, porque é muito enganador (e é fácil, pois arranjar não demonstrar algo é muito mais fácil que demonstrar algo), também não acho correto jogar frases ao ar. "O amor é a maior das virtudes" seria uma delas (inventei agora; não é difícil), assim como qualquer coisa que imponha uma condição a mais sobre uma característica (e não consigo bolar nenhum exemplo! [mas veja que consigo pensar abstratamente - gostei!]). Não é certo jogar uma frase sem explicar e tomá-la como verdaderia, a não ser que se explicite que é um postulado (só que aí tem que ser coerente e intuitivo, o que quase sempre não é, ou tem que se fazer uma explicação, que ninguém faz e assim não tenho certeza como eles querem ter [não está descartada a possibilidade de eu ser lesado intelectualmente]). Assim, não vale propor (por isso chamei assim) sentenças sem justificar, nem deixar em destaque. (Quem faz isso, desculpe minha ignorância em compreender os seus resultados mais simples. Mas ao menos explique se quiser me convencer [sem diálogos, por favor]).

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