01 outubro, 2007

péssimos momentos lineares

Creio que cada uma das esferas administrativas políticas que me cercam estão passando por maus momentos. Parece-me que estamos em época de governantes ruins, e não são estações, são pelo menos mais um ano (até as próximas eleições municipais).
Na minha cidade natal, Encantado é seu nome, o prefeito Agostinho Orsolin parece gostar de fazer obras (com apoio de alguns vereadores, veementes protestos de alguns [supondo que se chegue a verdade ao povo encantadense]). O que acontece: de uma forma que nem sei como adjetivar, resolveu-se que o trânsito deverá ser outro. Daí trocaram as mãos pela mão única, e vice-versa, colocaram canteiros nas tão belas ruas largas de Encantado (é, eram mesmo), colocaram placas, asfaltos. Derrubaram as árvores, formaram uma paisagem de concreto (que ainda não está pronta; parte do espaço das calçadas está cheio de entulhos). Nem parece mais aquela amigável rua que continha a escola em que eu estudava. Agora os alunos que dela saem (no término do horário de cada dia, é isso que estou dizendo) devem sentir algo muito rígido ao terem contato com a rua. Em outros lugares da cidade, colocaram novas formas de manobra. Talvez se governe apenas para os carros, desconsiderando a idéia das pessoas (do jeito que falei, parece que fica mais fácil para os carros; não é isso, há complicações nos entruncamentos, só que as obras parecem desprivilegiar totalmente o sujeito que quer andar a pé). Verdade que não esperei muito daquele prefeito (não votava ainda, e não estava empolgado com a eleição, não achava que algum candidato gerasse alguma esperança em especial), que é de um partido que é só um conjunto de pessoas (ao menos é assim que vejo), e as pessoas que se agregam a ele em Encantado o fazem por afinidade a pessoas já no partido. Ao menos não vejo outra idéia. Dos outros não sei, mas também não me parecem ideológicos. Em cidades pequenas parece que as pessoas querem algum tipo de pessoa que não sei qualificar (será que eu seria considerado um esclarecido? preciso ser considerado?). Na verdade, como o Luís Inácio da Silva ganhou a eleição, talvez não seja próprio de cidades pequenas. Verdade que não sei descrever muito bem ainda esse efeito. Voltando: há outros exemplos de má administração. Eu, ao menos, considero que a qualidade de vida das pessoas é importante. (E não fazer asfaltos [ah, um deles num lugar bem afastado e que é pouco usado, na ida para a Lagoa da Garibaldi, se é que me entendes] e enfiar as mãos pela mão única.) Poderia-se incentivar, quem sabe, a cultura ou a ecologia, por exemplo. E não houve muitos acertos (claro, às vezes são representantes do prefeito; não se precisa atribuir toda a culpa a só uma pessoa; mesmo assim, esta está me parecendo a pior administração [e talvez a primeira da qual eu consiga "assistir" razoavelmente experiente]). Ou eu que devo ter um gosto meio estranho, vai saber, e um mau entendimento do que é certo e errado.
No âmbito estadual, a governadora Yeda Crusius (que não me pareceu má candidata em 2006) tem que lidar com dificuldades financeiras de um estado devedor. Só que enxugar recursos que iriam para a educação não se justifica. Educação básica é algo de que não se pode descuidar, ao menos eu acho, para a formação de uma sociedade razoável. Mas mesmo assim se promoveu, e se efetivou rapidamente, um pacote de novas medidas, que inclui demitir alguns professores, direcionar alguns para serviços na escola (como bibliotecária). E para evitar a falta de professores (a falta de mais professores, melhor dizendo), se fez mais um remendo, uma solução "revolucionária": amontoar alunos em salas de aula e diminuir o número de turmas. E ainda alguns professores são arranjados (alguns são deslocados para matérias que não dominam, ou melhor, absolutamente não estão aptos a dar). Talvez alguém diga que os índices de aprovação com turmas grandes melhoram, mas... o que isso significa? Nivelar por baixo, como se diz? Um dia li que alguém que estuda muitos anos aqui sabe tanto como alguém que teve mais ou menos dois terços de anos de estudo num país desenvolvido. (Então brasileiros aprendem devagar?)
Não muito diferente é um novo projeto nacional: o REUNI, de nome tão elaborado e sutil como PROUNI e SIPOVO. A idéia é aumentar os índices de aprovação (para 90%; isso significa ter que exigir muito menos do aluno) de todos os cursos na universidade pública (em 5 anos, mas não importa), aumentar o número de alunos por professor (e universitários são as mesmas pessoas do Ensino Fundamental e Médio, e também fazem bagunça), implantar uns chamados ciclos básicos (que seriam cursos de dois anos em áreas, antes de se partir em especializações que são os cursos atuais; não me parece bom). E olha que bom, com isso parece que se consegue um aumento nos formados, e com alguma sorte e algumas mudanças de nome em algumas estatísticas (por exemplo, chamar de formado alguém que completar um ciclo básico), podemos atingir índices de países desenvolvidos. Nem se precisa dizer que os nossos formados serão muito piores. Mas é só pensar que isso não se mede (se mede na competência no trabalho real, mas o presidente sabe como dar desculpas e dizer que não é como ele) que estaria tudo muito bem resolvido. E além desse projeto Lula é uma péssima pessoa. Mente, disfarça, se contradiz, mas por algum motivo é carismático e consegue enganar (só espero que ele não se reeleja...). É incrível que esse é o nosso presidente. Não lembro de antes, então afirmo que o governo de Lula me parece muito pior que o de Fernando Henrique Cardoso. (Ou eu que sabia menos. Mas mesmo assim, sustento.)
Na Universidade Federal do Rio Grande Sul (UFRGS), onde estudo, foram aprovadas (faz uns dois meses) cotas raciais e "sociais". Quanto às cotas sociais, o maior problema é como considerar um desfavorecido social: é uma pessoa que fez o Ensino Médio em escolas públicas. Mas isso é meio furado, porque se pode estudar em escola pública e depois pagar um bom curso pré-vestibular - e ainda poder entrar com essas cotas. E além do mais, uma pessoa assim com uma fraca formação seria um perigo na universidade - a não ser que baixassem o nível dos aprovados (ops! está em conformidade com alguns projetos!). E cotas raciais, além de favorecer que pessoas não tão bem adaptadas a cursas o Ensino Superior (afinal, se existe o vestibular é para selecionar os melhores e mais aptos, os que têm mais chance de concluir o curso e se tornarem bons [e quem sabe prosseguir] na área em que se formaram; se fosse para qualquer um entrar podia se fazer um sorteio [ou um leilão? {nada a ver}]), simplesmente supõem que se você é negro ou indígena então você é menos inteligente que os outros, mas vamos dar um jeitinho nisso aí. Bem assim mesmo. Espera-se péssimos profissionais (olhe que sorte a minha: entrei no último ano antes das cotas; mesmo assim, ainda sou fortemente atingido).
E sei só um pouco do que acontece...

Alguns links de postagens que também discorrem sobre isso:
das cotas da UFRGS (08/08/2007)
sobre a enturmação (11/08/2007)

2 comentários:

Thai disse...

Olha, novamente eu! É, eu sei escrever. E por isso escrevo (Não te faz lembrar de algo?).

Teus posts estão totalmente (que "prepotência" a minha afirmar algo assim...) em conformidade com o que estou vivendo nessa semana (tu podes pensar: "quanta coisa para apenas uma segunda e meia terça!", mas não, não é tanto assim...). Ontem era o dia nacional do Vereador, e por isso ocorreu um "debate" (chamada por alguns de entrevista [palavra meio desagradável]) entre alguns alunos da minha escola (principalmente integrantes do Grêmio Estudantil [do qual, como sabes, faço parte]) e os senhores Vereadores aqui do município. Tudo isso ao vivo na rádio AM local (Encanto). Foram duas horas (ou quase isso) de perguntas (que, se analisarmos, foram poucas) e respostas. Algo interessante de se fazer, até. Mas, o que mais me deixou satisfeita no "debate" foi quando perguntamos (sim, eu participei) aos ilustríssimos senhores Vereadores qual a opinião de cada um sobre "as mudanças feitas na rua Monsenhor Scalabrini (que tu citastes aí no teu texto)" e "se havia realmente algo de positivo com essa obra". De duas Vereadoras (ah, eram somente três Vereadores a participar) vieram as respostas já esperadas. Uma disse: "eu cultuo o belo. E, vamos confessar, a rua ficou realmente melhor apresentada". Tive que rir, claro (não alto, pois o microfone posto na minha frente não permitia). Um dos Vereadores se mostrou desgostoso com a mudança e, principalmente, com o corte das àrvores que lá ocorreu para a "remodelação" das calçadas! Nessa hora vibrei e não suportei (o "locutor" nos disse para não interrompermos os Vereadores, veja só!). Eu precisava falar mais algumas coisinhas. E disse. Falei das árvores na frente da igreja, duas grandes árvores que foram cortadas para se ampliar um tosco pedaço de concreto. A presidente do Grêmio também se animou e continuou: "eram árvores que tinham uma história, quase centenárias (nem tanto, nem tanto)!". Mais coisas foram discutidas, claro. Educação, saúde, projetos direcionados aos jovens, o real papel do Vereador. Coisas assim. Agora, pergunto: será que de algo adiantou esse "debate" feito numa rádio AM da cidade? Não sei, mas espero mesmo que sim. Como disse num dos posts do meu blog: "eu quero melhorar as coisas, quero mudar de forma positiva o que me parece "incorreto", quero um certo bem-estar geral."

Até certa idade (que não faz muito) eu pouco me importava (ou pouco sabia, apenas) das coisas públicas, do governo e suas feitorias. Agora que cresci um pouco consigo ver "bem" tudo que me cerca e tudo (claro que não tudo, óbvio) que acontece no país. E, infelizmente, só vejo coisas que não me agradam, que me deixam triste e irritada e com ódio do governo e do povo sem atitude e da acomodação sagrada de cada dia e dos projetos retrógrados que são apoiados. E me vem uma sensação de as coisas nunca foram diferentes, de que tudo sempre foi assim... De certo porque antes, por ser criança demais, não tinha a capacidade de repartar em coisas boas (nesse sentido: de governar) que aconteciam (e certamente aconteciam!). Então, agora, tudo parece inalcassável e imutável. Será que nunca viveremos como uma verdadeira sociedade engajada na busca do bem-estar? O que eu posso fazer para mudar um pouco disso tudo?

(Parece um e-mail? Aham, também acho.)

Um aceno de pata.

Fischer disse...

(Uma nota sobre comentários: o blogger só permite fazer um por vez. Assim, se você tentar outro, perderá o anterior, não importa o que tenha escrito. Então vamos fazer esse de novo...)

Grande contribuição seu comentário!
Podemos pensar nas pessoas que têm de se conformar em ouvir o rádio não podendo participar desses "debates" (como eu era, e sou)... Espero que ao menos nós (acho que faço parte da massa, sem nenhum papel ou consideração inicial [mas tudo bem...]) nos questionemos um pouco sobre isso. Mas ao menos há alguém que participa e escreve e ainda se importa com algumas coisas, então podemos arriscar ter alguma esperança.
(Aqui não precisamos falar de nenhum solução instantânea para todos os problemas [não escrevi na década de 80 de não uso hífen nesses casos]. Bastam algumas pequenas melhoras, que podem causar outras pequenas melhoras... [e o motivo pelo qual não consigo compreender muito bem as vantagens e desvantagens é esse com outra roupagem])
E quando alguém tem um posto privilegiado, acho que não deve ficar se rindo por isso. Não faz sentido. (Imagine um soldado num posto alto, dotado de um bom instrumento de visão.) Melhor é usar esse posto para alcançar seu objetivo (na verdade parece que há pessoas que usam seus postos políticos para atingir objetivos pessoais e financeiros... mas quando escrevi foi na melhor das intenções).

Importante é agora que estamos crescidos é não envelhecer, não se acomodar e não passar a aceitar medidas e ações como irrevogáveis. (Independente de haver saída real ou não. Afinal, devemos trabalhar com a melhor hipótese [ainda preciso formular melhor].) Isso é muito importante (se repetem conceitos para que sejam fixados... é mais ou menos normal esquecer o início de uma frase no decorrer dela).

(Parece uma resposta a um e-mail. Mas independentemente disso, espero que tenha passado alguma coisa.)